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'Temos que defender Dilma e tirar o governo da encalacrada criada pela oposição', diz Lula

Em discurso para a juventude do PT, ex-presidente afirma que partido precisa se fortalecer nas próximas eleições para garantir continuidade do 'projeto de poder'; 'não tem 2018 se a gente não tiver 2016'

Foto do author Vera Rosa
Por Carla Araujo e Vera Rosa
Atualização:

(Atualizada às 11h23 de 21/11/2015) - BRASÍLIA - Ao abrir nesta sexta-feira o 3.º Congresso da Juventude do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi tratado como candidato em campanha, mas passou pelo constrangimento de ver a plateia responsabilizá-lo pela aliança com o PMDB. Sob gritos de "Lula/eu quero ver/você romper com o PMDB", Lula disse que seu partido precisa ajudar a presidente Dilma Rousseff a sair da "encalacrada" e "recuperar" o governo, se quiser continuar no poder.

"Antes de pensar em 2018 e em 2016, nós temos de ajudar a companheira Dilma a sair da encalacrada que a oposição colocou a gente depois das eleições", afirmou Lula, numa alusão indireta à ameaça de impeachment. Andando sobre o palco como se estivesse num palanque, o ex-presidente levou o discurso para a esquerda, na tentativa de conquistar o público, e bateu no PSDB. "Eu quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado numa sacristia", protestou, ao se referir à Operação Lava Jato, que prendeu pesos-pesados do PT.

O ex-presidente Luiz Iácio Lula da Silva Foto: André Dusek|Estadão

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Sem esconder a irritação, Lula disse não passar de "tese" a acusação de que o PT recebeu propina em campanhas eleitorais. "A impressão que eu tenho é que as empresas que recebiam da Petrobrás tinham vários cofres: um do dinheiro honesto, um do podre e outro da propina. Pô, então será que o Vaccari era burro e só ia na propina?", ironizou. "Será que o Vaccari, inteligente do jeito que é, não poderia ir uma vez só no cofre do dinheiro bom, pegar um pouquinho e deixar o PSDB correr no da propina?"

Na plateia, cerca de 200 jovens gritavam "Fora já/ fora daqui/o Eduardo Cunha junto com Levy" e levantavam faixas com os dizeres "Nem Meirelles nem Levy" e "É hora de parar de recuar". As críticas eram ao pacto de não agressão que o governo e a cúpula do PT fizeram com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de manter contas secretas na Suíça com dinheiro desviado da Petrobrás.

O protesto também foi dirigido à tentativa de Lula de emplacar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles no lugar do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Para os manifestantes, a substituição seria o mesmo que trocar "seis por meia dúzia".

Lula pediu aos militantes do PT que ajudassem Dilma a sair da crise, a "vencer todos os obstáculos" e a virar a página do ajuste fiscal. Para amainar as críticas, ele exortou os jovens a reagirem quando adversários chamarem petistas de "ladrões", por causa dos escândalos de corrupção envolvendo caciques do partido, e disse que o PT precisa construir uma narrativa para defender o seu "legado", no ano eleitoral de 2016, se quiser conquistar novamente a Presidência, daqui a três anos.

"Não tem 2018 se não tiver 2016", afirmou Lula, que já tem agenda de candidato à sucessão de Dilma.

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Partido único. Como faz sempre quando é provocado a justificar a aliança com o PMDB, o maior partido da coalizão, o ex-presidente reiterou que o "ideal" seria que a Presidência, os 27 governadores, os 513 deputados federais e os 81 senadores fossem da esquerda ou "de um partido só".

"Seria maravilhoso, mas, em não sendo maravilhoso, a gente tem de fazer aliança. Ah, como seria bom se a Dilma, sozinha, pudesse votar tudo e tivesse 257 votos no Congresso!", exclamou Lula. "Acontece que entre a política do sonho, o meu desejo ideológico e o mundo real da política há uma distância enorme. E a gente tem de aceitar o resultado (das urnas) e construir a governabilidade."

O ex-presidente conclamou a juventude do PT a defender os programas do governo, como o Plano Nacional de Educação, em vez de ficar reclamando de Dilma. Ao dizer que sua sucessora está em "situação delicada" e precisa de apoio, Lula também fez cobranças à plateia.

"Acho que um congresso como esse tem de sair propondo alguma coisa mais forte, de interesse desse País. Apenas escrever num documento 'Fora Levy' ou "Fora PMDB' é muito pouco. Me desculpem, mas é muito pouco", insistiu. "Eu quero saber qual é a proposta da juventude para a educação nesse País e o que vocês vão propor ao nosso governo para a geração de emprego."

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Com o discurso, em que citou ícones da esquerda, como Raul Castro, presidente de Cuba, Lula conseguiu reverter o clima de cobrança. "É Lula/de novo/com a força do povo", bradavam os jovens, entoando o slogan da segunda campanha de Lula, em 2006. Fotos estilizadas de petistas que tiveram os nomes envolvidos em escândalos de corrupção do mensalão e da Petrobrás, como o ex-ministro José Dirceu, os ex-tesoureiros do PT João Vaccari Neto e Delúbio Soares, o ex-presidente do partido José Genoino e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, enfeitavam a quadra de esportes onde Lula discursou, com a frase "guerreiros do povo brasileiro". Vaccari e Dirceu estão presos em Curitiba.

Lula também criticou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), por fechar escolas e disse que o PT pode tirar "proveito político" dessa "contradição" entre o discurso do PSDB e a prática. O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que o partido enfrenta uma campanha de "ódio e intolerância", com o objetivo de inviabilizar a legenda. Candidato à reeleição, o secretário da Juventude do PT, Jefferson Lima, da Construindo um Novo Brasil (CNB) -- a corrente de Lula, majoritária no PT --, foi vaiado, escancarando a briga entre as tendências da sigla.