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Temer diz ‘por enquanto’ não querer Planalto, mas já prepara defesa no TSE

Ao ser interrompido por manifestantes que pediam impeachment da presidente durante encontro do PMDB, vice cometeu ato falho, mas depois contemporizou: ‘Vamos esperar 2018’; ele trabalha para que Justiça Eleitoral julgue suas contas separadas das de Dilma

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa , Adriano Ceolin e Isadora Peron
Atualização:

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer foi interrompido nesta terça-feira, na abertura do Congresso do PMDB, por manifestantes que pregavam o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a ascensão dele ao poder. Aos gritos de “Brasil/Pra Frente/Temer Presidente”, os militantes, que carregavam bonecas de Dilma, vestida com a faixa “mãe do petrolão”, pediram mais de uma vez que ele assumisse a Presidência. “Por enquanto, não, obrigado”, respondeu o vice. “Vamos esperar 2018.” À plateia, Temer ressalvou, porém, que não será ele o candidato do PMDB na disputa de 2018. “Vamos lançar um grande nome do PMDB. Estou encerrando minha vida pública”, garantiu. Apesar da declaração, o vice se prepara para o caso de ter de assumir a Presidência e já contratou até mesmo o advogado Gustavo Guedes, especialista em Direito Eleitoral, para conduzir sua defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É no TSE que tramita a ação do PSDB pedindo a impugnação dos mandatos de Dilma e Temer. Os tucanos alegam que houve abuso de poder econômico na campanha de 2014 e, se o TSE julgar a ação procedente, a presidente e o vice podem ser cassados. Advogado constitucionalista, Temer argumenta que sua prestação de contas foi feita separadamente do balanço apresentado por Dilma. Além disso, em conversa recente com interlocutores, invocou vários artigos da Carta para sustentar que ninguém pode ser responsabilizado por atos de outras pessoas.

O vice-presidente da República, Michel Temer, nocongresso do PMDB da Fundação Ulysses Guimarães, em Brasília Foto: ANDRE DUSEK|ESTADAO

Foi nesse ambiente de distanciamento entre Dilma e Temer que ocorreu nesta terça-feira o congresso do PMDB, o principal partido da coalizão governista, em Brasília. Mesmo escancarando divisões entre as várias alas do partido, e até divergências quanto ao programa “Uma Ponte Para o Futuro”, com propostas antagônicas às do PT para a retomada do crescimento - como o fim dos gastos mínimos previstos na Constituição para despesas com educação e saúde -, o encontro foi marcado por críticas ao governo. Tratou-se ali do primeiro passo para o divórcio com o Planalto. Na prática, o PMDB já havia adiado a decisão sobre o rompimento com Dilma para março de 2016, quando haverá a convenção da legenda, mas manteve o congresso promovido pela Fundação Ulysses Guimarães para dar um sinal de força. Ao lado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Temer disse ser preciso “coragem para não fugir da verdadeira luta”, mas fez discurso tentando equilibrar sua posição de vice com o desejo de pavimentar o afastamento do PMDB do governo. “Nós estamos juntos procurando soluções para o País. Não é de hoje que temos falado em reunificar o pensamento nacional e pacificar a Nação. Não é da índole do brasileiro a disseminação do ódio”, discursou Temer, que também preside o PMDB. Em agosto, no auge da crise política, ele provocou a fúria de Dilma ao apelar para a necessidade de “alguém capaz de reunificar a todos”. À época, a frase foi interpretada no Planalto como tentativa de Temer de se cacifar como alternativa para ocupar o lugar da presidente. Sob os ecos de “Rompe, PMDB”, os manifestantes que pediam o impeachment ergueram cartazes com os dizeres “Temer, vista a faixa já!”. O vice falava sobre a necessidade de mudanças profundas na economia, e não apenas “cosméticas”, quando foi surpreendido pelo protesto. Após responder “por enquanto não” aos apelos para assumir o poder, ele prosseguiu com o discurso: “Para não encolhermos diante de demagogias fáceis, não podemos colocar os interesses pessoais na frente dos interesses do País”. Para o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o PMDB precisa sair logo do governo. “O impeachment não depende da gente, mas tem algo que depende. Não é o afastamento de Dilma da Presidência, mas o afastamento do PMDB dela, para que possamos construir um partido com discurso”, insistiu Geddel.

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