PUBLICIDADE

Temer deveria começar pela reforma política, sugere Afif

Presidente do Sebrae, que foi deputado constituinte, diz não acreditar que presidente tenha condições de fazer reformas

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

BRASÍLIA - É preciso promover ajustes na Constituição, mas essa é uma tarefa muito difícil de ser cumprida com o presidencialismo de coalizão existente no País, avaliou o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, que foi deputado constituinte. "Não acredito que o presidente tenha condições políticas, com esse Congresso de 'toma lá, dá cá', de fazer as reformas que se quer no País", afirmou.

O Estado inicia uma série de reportagens sobre os desafios de reconstrução do País. Hoje, ela aborda a necessidade de ajustar as contas públicas e mostra como a Constituição de 1988 está na raiz de boa parte dos problemas enfrentados atualmente.

Para Afif, ao fazer a reforma política, Temer estaria em linha com o sentimento das ruas Foto: André Dusek/Estadão

PUBLICIDADE

Para Afif, o presidente Michel Temer deveria começar pela reforma política. "Com isso, ele iria ao encontro das ruas, e não de encontro às ruas", avaliou. Ao mudar a forma como se elege o Congresso Nacional, o governo estaria em linha com o sentimento presente nas manifestações de rua, que "esses políticos não me representam", e criaria um ambiente melhor para alterar pontos da Carta. "Se ele não fizer essa conexão com as ruas, a crise vai consumir o governo", alertou.

Uma forma de iniciar essa discussão seria desengavetar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que o próprio Temer relatou, em 2004. De autoria do então deputado Luiz Carlos Santos (PMDB), ela previa uma revisão constitucional. A proposta seria elaborada por uma comissão a ser indicada pelo Congresso. O texto seria aprovado por maioria, em votação unicameral em dois turnos.

Afif contou que, ainda na Constituinte, ajudou a aprovar um dispositivo que previa uma revisão do texto constitucional cinco anos após sua promulgação. Justamente para fazer uma reflexão e ajustar o que fosse necessário. O prazo permitia que esse trabalho fosse feito após a realização das primeiras eleições diretas após a ditadura militar. Porém, a revisão ocorreu logo após o impeachment de Fernando Collor. 

Num ambiente político traumatizado pelo processo, não houve clima para aprovar mudanças profundas na Constituição. "Todo mundo ficou com medo", comentou. Dessa forma, perdeu-se a oportunidade de fazer ajustes que, na época, já se mostravam necessários.