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Sucessão envolve ambições para 2018

Temer assume o Planalto com apoio de aliados interessados na próxima disputa presidencial, sob pressão da crise econômica e da busca por confiança da população para aprovação de reformas

Por Tania Monteiro e Carla Araujo
Atualização:
  Foto: Ary Moraes

BRASÍLIA - Efetivado no cargo, o agora presidente da República, Michel Temer, de 75 anos, enfrentará desafios maiores àqueles encarados durante seu período de interinidade. Ele terá de conciliar as ambições eleitorais para 2018 de seu partido com os atuais aliados.

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O peemedebista continuará cercado de sua “tropa de choque” que o acompanha desde os tempos em que presidia a Câmara dos Deputados. Os peemedebistas Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Romero Jucá formam um quarteto que despacha quase que diariamente com o presidente.

Temer tem ainda a colaboração direta de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, apontado como o fiador da primeira fase de seu governo. Esse protagonismo de Meirelles – que tem ambições eleitorais – exigirá de Temer jogo de cintura para evitar rachas em sua equipe, uma vez que há fortes ministros presidenciáveis, como José Serra (Relações Exteriores), e aliados de olho na sua cadeira, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações).

Se tiver sucesso na condução econômica, não será surpresa se Temer, que durante o período de interinidade fez recuos, mude de ideia e se sinta “forçado” a se colocar aos brasileiros como opção para continuar no Planalto daqui a dois anos.

Até lá, porém, um de seus desafios é alcançar um nível de conciliação com o Congresso capaz de pôr em marcha as reformas trabalhista e previdenciária, assim como as medidas de contenção de gastos. Por isso, o Planalto encomendou pesquisas para desenhar uma estratégia de comunicação com a sociedade sobre a reforma da Previdência, por exemplo. A ideia é tentar adiantá-la ainda neste ano.

Popularidade. Já outro desafio bem maior que se impõe no atual tempo de crise ao governo é a retomada do crescimento com redução do desemprego – indicadores que costumam minguar a popularidade dos governantes. Em julho, uma pesquisa do Ibope apontou que 66% dos brasileiros diziam que não confiavam em Temer e 13% classificavam o governo como ótimo. Além de angariar apoio da população, Temer precisa convencer o mercado financeiro de que está realmente empenhado em colocar as contas do País em ordem. Os investidores, que apoiaram Temer no período de interinidade, têm pressa.

O novo presidente terá de lidar com a distribuição de cargos a aliados fiéis nessa passagem bem-sucedida de interino a efetivo. Uma “pontual” reforma ministerial deve ocorrer para, até mesmo, adaptar a Esplanada ao governo pós-impeachment.

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Temer, que embarca para a China em sua primeira viagem oficial, já planeja investidas também internas. Durante a interinidade, ele detectou a necessidade de conquistar o Nordeste, tentou criar agenda na Região, mas teve de cancelar as viagens para focar no impeachment. Agora, já ordenou que se prepare o calendário de seu desembarque no reduto petista.

Pedras no caminho. Temer sabe que há uma outra sombra que pode turvar seu caminho. O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por abrir o processo de impeachment de Dilma, é considerado por interlocutores do Planalto uma “bomba-relógio” com alto poder destrutivo capaz de abalar o novo ocupante do Executivo. A Lava Jato também é um receio constante do governo, uma vez que o esquema de corrupção na Petrobrás atingiu vários integrantes do PMDB e de outros partidos. Temer já foi citado em delações, mas sem acusações diretas.