Confere? Depende. Sobretudo do cumprimento do compromisso do presidente Michel Temer de “recolocar o País nos trilhos” mediante a reconstrução dos fundamentos de uma economia estável e a aprovação das reformas mais urgentes: Previdência, relações trabalhistas, sistema político/eleitoral e distribuição de recursos entre União, Estados e municípios.
De razoavelmente longa consulta ao presidente do PSDB, senador Aécio Neves, depreende-se em resumo o seguinte: o PSDB não pretende ser para o PMDB o que o PMDB foi para o PT. Em miúdos, os tucanos não aceitam um papel acessório e pretendem fazer valer o acerto programático feito quando aceitaram a condição de aliados do governo de transição.
“Nosso acordo não incluiu distribuição de cargos, teve como parâmetro a retomada de políticas (notadamente na economia) responsáveis. Respeitados os termos, estaremos juntos para fazer dar certo. Afinal, queremos ser sócios do êxito e não parceiros do fracasso”, diz Aécio, com meridiana clareza sobre razões e intenções do PSDB.
“Nós temos um projeto político de retomada da Presidência da República e, por isso, a manutenção firme do elo com a sociedade é imprescindível”, alega o senador, questionado em seguida sobre a contradição entre o projeto eleitoral e o plano de administração da economia; óbvia, extrema e necessariamente impopular. “É a única possibilidade de obter o êxito pretendido. Foi a minha proposta na eleição de 2014, é a agenda de arrumação adotada agora pelo PSDB.”
Corpo presente. Como ocorreu com Fernando Henrique Cardoso quando era ministro da Fazenda de Itamar Franco, que precisava desesperadamente deixar claro o detalhe como seria o Plano Real, Michel Temer pretende investir pessoalmente na explicação das reformas.
Na reunião ministerial de quarta-feira última pediu aos ministros presença constante no Congresso. A depender do grau de dificuldade irá ele mesmo à Câmara e ao Senado para se reunir com as bancadas dos partidos e explicitar ponto a ponto as questões das reformas.
Estilo é o homem. Em meio às tratativas para conseguir separar a cassação de Dilma da pena de inabilitação para funções públicas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), prometeu ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que só viajaria com Temer para a China depois de lido o requerimento de urgência para a proposta de aumento do teto salarial do Poder Judiciário.
No mesmo dia da votação do impeachment, Renan pôs o assunto na pauta do Senado, mas o requerimento não foi lido e mesmo assim ele viajou, deixando Lewandowski no ora veja. Como havia deixado os defensores do impeachment (Michel Temer incluído) horas antes na defesa da anistia parcial a Dilma.
Modelagem. Aliados (do PMDB e fora do partido) de Temer ficam um pouco aflitos com seu estilo por vezes excessivamente ameno. E o aconselham a adotar o modelo de Fernando Henrique: conciliador, mas absolutamente implacável no quesito “quem manda aqui sou eu”. Sem perder a ternura. Se é que há.