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Serra Talhada já vive clima de disputa eleitoral

Por Angela Lacerda
Atualização:

O clima de disputa política entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos (PSB) é expresso logo na entrada de Serra Talhada, município sertanejo a 415 quilômetros do Recife, onde a presidente inaugura nesta tarde de segunda-feira, 14, primeira etapa da Adutora do Pajeú - obra que já havia sido parcialmente inaugurada por ela e pelo agora opositor Campos, em março do ano passado.Quase lado a lado, dois outdoors expressam feitos dos dois governos: "Dilma é apoio aos agricultores, obrigado pelos equipamentos", diz um, enquanto o outro fala de "mais uma ação do governo do Estado na saúde", com a chegada de medicamentos excepcionais."O clima está acirrado", reconhece o prefeito do PT, Luciano Duque, que disse ter pago, do próprio bolso, três outdoors para recepcionar a presidente. Cada um custou R$ 800,00. O outro aborda o programa Minha Casa, Minha Vida, com 899 casas já construídas, e o terceiro, a atenção ao ensino infantil e fundamental.Duque providenciou os outdoors na última sexta-feira, quando a vinda da presidente foi confirmada. "É uma forma de gratidão". Ele admitiu que não havia agenda prévia da visita presidencial e garantiu que um protesto de professores, realizado na porta da prefeitura pela manhã, nada tinha a ver com a presença da presidente. Um dos cartazes dos manifestantes que dizia "Presidente Dilma, aqui professor ganha R$ 1 mil" foi logo retirado com a chegada da reportagem. Os professores querem aumento de 15% no salário que é 7,7% acima do piso nacional."O protesto já estava agendado, foi uma coincidência", explicou ele, ao negar que a primeira etapa da adutora do Pajeú já houvesse sido inaugurada. Ele frisou que somente com a inauguração, hoje, do terceiro trecho, é que a primeira etapa estará realmente concluída.O primeiro trecho - que vai de Floresta a Serra Talhada, com extensão de 118 quilômetros - foi inaugurado no dia 25 de março do ano passado, em um evento com a presença de Dilma e do ex-governador Eduardo Campos, no seu município. O segundo, em setembro, de Carnaíba a Flores, de 18 quilômetros, foi inaugurado por Campos e pelo ex-ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), ainda na base aliada. O terceiro trecho a ser inaugurado nesta tarde tem 60 quilômetros e vai de Carnaíba a Afogados da Ingazeira.O prefeito de Afogados da Ingazeira e também presidente da Associação dos Municípios de Pernambuco, José Patriota (PSB), agora também na oposição, estranhou o fato da inauguração não ser no seu município. "Seria o mais lógico". Ele observou ser "raro" um presidente ir duas vezes ao mesmo lugar para uma inauguração.A chegada da presidente no Estado do provável adversário no mesmo dia em que Campos anuncia Marina Silva como candidata a vice na chapa PSB-Rede, em Brasília, é avaliada como uma forma de dividir as atenções e já mostrar força do governo federal em Pernambuco.DesencontrosA disputa política em Serra Talhada se manifesta também em informações desencontradas. O prefeito destacou ter vencido as eleições municipais contra Campos, o grupo do deputado Federal Inocêncio Oliveira (PR) e do senador Armando Monteiro Neto (PTB) - agora pré-candidato ao governo de Pernambuco com apoio do PT.Nos seus cálculos, 11 dos 15 vereadores apoiam seu governo, que tem ampla maioria na Câmara Municipal. O vereador Leirson Magalhães, do PSB, assegura que a oposição tem nove vereadores ao lado da candidatura de Campos e contra a reeleição de Dilma. O fato de a adutora do Pajeú não ter resolvido completamente a falta de água no município, que ainda enfrenta racionamento, é outro ponto de conflito. "Água tem, o que falta é a Compesa (empresa estadual de abastecimento) adequar a infraestrutura para as pessoas poderem receber a água", acusa o prefeito. "Há dois anos a Compesa vem trabalhando na expansão da rede de distribuição, o problema é que Serra Talhada recebe penas 30% da água da adutora", rebate Magalhães. A população ainda se mostra indiferente à disputa eleitoral. "Isso é coisa entre eles, político é engraçado", disse o ex-locutor de rádio Roberto Claudio, ao lembrar que até pouco tempo, todos que agora se criticam estavam juntos.

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