Sem estrutura, entidade recebe R$ 1,5 mi de Lupi

Presidida por filiado ao PDT, Fenamoto assinou convênio de curso, mas precisou contratar professores e usar salas emprestadas

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Por Iuri Dantas e Marta Salomon
Atualização:

BRASÍLIA - A Federação Nacional de Mototaxistas e Motofretistas, presidida por Robson Alves Paulino, filiado ao PDT do ministro Carlos Lupi (Trabalho), assinou convênio de R$ 1,5 milhão para qualificar motoboys. Escolhida oficialmente por sua estrutura e expertise, a Fenamoto precisou contratar professores para dar as aulas em salas emprestadas pela Secretaria do Trabalho do Distrito Federal, a 200 quilômetros de distância de Goiânia.

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Na casa onde funciona a sede da Fenamoto, encontram-se apenas um cartaz do ministério, com telefone de Brasília, e poucas informações. Na quinta-feira à tarde, a reportagem não encontrou alunos em sala de aula em Brasília. Eles haviam sido dispensados mais cedo. Dos candidatos à qualificação, a Fenamoto exige dois anos de habilitação na categoria A, de motociclista.

Ontem, o Estado mostrou que cargos da cúpula do ministério são ocupados por integrantes do comando do PDT. Mesmo depois da exoneração do tesoureiro do partido, Marcelo Panella, da função de chefe de gabinete do ministro, em agosto, ainda restam dez dirigentes entre os principais assessores de Carlos Lupi, além do presidente da Fundacentro. O ministro disse que a militância partidária "pesou" nas nomeações.

Valéria Cristina da Silva, funcionária da Fenamoto e responsável pelo curso, confirmou que Paulino integra o partido do ministro do Trabalho, mas negou favorecimento político. "Não posso negar que o Robson é filiado, mas de jeito nenhum a Fenamoto foi favorecida. Concorremos uma vez e não ganhamos porque não atendíamos às necessidades do edital", afirmou.

Chefe amigo. Em 2009, Lupi posou para fotos ao lado do presidente da Fenamoto em visita à sede da entidade, em Goiânia. Robson Paulino costuma se referir ao ministro e presidente licenciado do partido ora de "chefe", ora de "amigo".

A Fenamoto não é um caso isolado. A falta de estrutura própria é quase uma regra entre as entidades contratadas para o Plano Setorial de Qualificação (Planseq). Muitas se valem de centros comunitários, escolas e igrejas para realizar os cursos. "Se a prefeitura não colabora, a gente reclama com o ministério", contou Carmelucia Rodrigues, da Associação Goiana de Atualização e Realização do Cidadão (AGA), outra entidade que atua em Goiás.

A AGA integra a lista de entidades privadas sem fins lucrativos sob investigação da Controladoria-Geral da União. A CGU informa que identificou o não cumprimento das metas de qualificação e inserção no mercado de trabalho de pelo menos 30% dos alunos. Nesse caso, a entidade deveria ter devolvido o dinheiro do Ministério do Trabalho.

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O Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores nas Indústrias de Confecção de Roupas e de Chapéus de Senhoras do Rio de Janeiro, contratada para intermediar empregos, é outro caso curioso no capítulo da qualificação profissional. O sindicato recebeu R$ 581.835 do Fundo de Amparo do Trabalhador neste ano, mas ainda não realizou nenhum curso.

Segundo o porta-voz Pedro Perez, o sindicato terceiriza a qualificação para outra entidade, a Oxigênio, em São Paulo, que deve iniciar as aulas nesta semana. De acordo com auditorias da CGU, a Oxigênio realizou cursos de baixa qualidade, praticou desvios na contratação de lanche, vale-transporte e material didático.

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