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'Se ganhar, vou propor um pacto; se eu perder, sou carta fora do baralho', diz Dilma

Em entrevista, presidente afirma acreditar ter apoio suficiente para barrar impeachment na Câmara, volta a apontar 'golpe' e nega renúncia mesmo em caso de derrota na votação

Por Ricardo Galhardo
Atualização:

BRASÍLIA - Em conversa com um grupo de jornalistas nesta quarta-feira, 13, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff disse estar confiante em uma vitória na Câmara contra o pedido de abertura de processo de impeachment. Caso isso aconteça, Dilma vai propor um amplo pacto nacional com todas as forças políticas, inclusive da oposição. Indagada se participaria de um pacto no caso de derrota, Dilma respondeu: “Se eu perder, sou carta fora do baralho”.

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A presidente não deixou claro se a proposta de repactuação será apresentada após a votação do impeachment na Câmara ou no Senado.

“Digo qual é o meu primeiro ato pós votação na Câmara. A proposta de um pacto, de uma nova repactuação entre todas as forças políticas, sem vencidos e sem vencedores. Seja pós Câmara mas também pós-Senado, sobretudo. No pós Senado é que isso será mais efetivo”, disse Dilma. De acordo com a presidente, a proposta de repactuação vai se estender a oposição. “A oposição existe”, declarou.

Presidente Dilma Rousseff em entrevista coletiva àimprensa em seu gabinete, no Palácio do Planalto Foto: DIDA SAMPAIO /ESTADAO

Às vésperas da votação na Câmara que vai selar seu destino político, Dilma recebeu os jornalistas para uma conversa em seu gabinete que se estendeu por mais de duas horas entre o final da manhã e o início da tarde, na qual falou sobre suas expectativas para os próximos dias.

Aparentando tranquilidade e em vários momentos bom humor, Dilma se mostrou confiante no resultado da votação, a despeito das notícias negativas dos últimos dias, como a decisão do PP de desembarcar do governo.

Dilma disse que vai lutar até o fim pela manutenção do mandato em todas as instâncias possíveis e descartou fazer como o ex-presidente Fernando Collor, que renunciou depois de ser derrotado na Câmara, em 1992, e pouco antes de começar a ser julgado pelo Senado, no fim daquele ano.

“O governo vai lutar até o último minuto do último tempo por uma coisa que acreditamos que seja factível, que é ganhar contra esta tentativa de golpe que estão tentando colocar contra nós através de um relatório que é uma fraude”, afirmou a presidente.

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Dilma comparou o momento a uma guerra psicológica na qual os dois lados tentam usar os números a seu favor para influenciar os indecisos. “Nós agora, nessa reta final, estamos sofrendo e vamos sofrer uma guerra psicológica que tem um objetivo que é construir uma situação de efeito dominó”, disse.

A presidente minimizou a saída do PP do governo. “É muito difícil neste momento você dizer que um partido desembarcou do governo. Tem situações as mais variadas. Os partidos saem do governo e as pessoas ficam”, disse.

Dilma não descartou a possibilidade de recorrer ao Judiciário em caso de derrota no Congresso. Ela citou supostas falhas no rito do impeachment em relação ao direito de defesa como possível argumento para a judicialização do caso.

“Não garanto ainda o que nós vamos fazer porque não tenho a avaliação completa do jurídico do governo. Não sabemos se vamos. E se formos, quando”, disse.

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Ao final da conversa, Dilma foi perguntada sobre o cenário em caso de derrota e também sobre seus planos para o futuro, se conseguir terminar o mandato. “Vou embora para a minha casa em Porto Alegre. Tenho direito à aposentadoria.”

Crises. A presidente avalia que o País vive a interação entre uma instabilidade política extremamente profunda, que há 15 meses afeta o País, e a crise econômica. "Eu não digo que a crise econômica derive integralmente da política, acho que ela é intensificada, acho que ela é bastante piorada, agora, sobretudo eu acho que a nossa capacidade de recuperação se mostrou limitada pela crise política", afirmou a presidente.

Dilma repetiu o discurso de que a crise econômica é cíclica, que primeiro atingiu os países desenvolvidos e depois as nações em desenvolvimento. Para ela, ninguém pode subestimar o efeito da queda das commodities sobre o conjunto da economia e o fato de que não houve uma recuperação significativa da economia americana. "Mas tem características próprias do Brasil. Eu não acredito que se deve fundamentalmente à política anticíclica que nós adotamos a partir de 2009 as nossas mazelas econômicas. Acho que não".

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A presidente avaliou que as ações do governo adiaram os efeitos da crise, mas o que o Brasil ainda tem várias "disfunções" que precisam ser superadas. "Acredito que tivemos um aprofundamento da crise derivado do fato de que nós, ao fazer a política anticíclica, nós derrubamos bastante a arrecadação do País", afirmou. "Nós tivemos um nível de redução de impostos bem elevado", afirmou.

Entre as medidas citadas por ela para tentar mitigar e adiar os efeitos da crise no País, as quais tiveram como resultado a queda na arrecadação estão o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), com juros de 2,5% ao ano, a redução do imposto sobre bens de capital de 30% para 4%. Essas medidas, para ela, seguraram o emprego "Se você for olhar no meu período - sem contar o período do presidente Lula - de 2011 a 2014, críamos um pouco mais de 5,2 milhões de empregos. Se a gente for olhar hoje o saldo, mesmo com 15 meses de profunda crise econômica, nós perdemos em torno de 2,6 milhões empregos. Conseguimos manter um saldo de 3 milhões e pouco (de empregos)".

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Para a presidente, a economia internacional começa a dar sinais que vai diminuir o crescimento do lado dos emergentes e processo que necessariamente terá de ser enfrentado pelo governo. "Ninguém saiu de processo de crises sem enfrentá-las". Por outro lado, segundo a presidente, o Brasil tem uma situação externa favorável, com a projeção de US$ 40 bilhões de superávit na balança comercial feita pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, ante um déficit de US$ 4 bilhões obtido em 2014. "Todos os países mais parecidos conosco tiveram uma saída via aumento das exportações, substituição de importação por insumos mais caros".

Dilma considerou que outro ponto de melhora na economia foi a queda da inflação, mas relacionou a redução, bem como a alta no ano passado, ao preço da energia elétrica. "Tivemos um ajuste de tarifas brutal, tivemos bandeira vermelha e tivemos que botar todas as térmicas para funcionar para não termos racionamento. Tem gente que acha isso errado. Não, isso faz parte de qual é a estrutura do sistema e é um dos fatores que pesa na inflação tanto para cima quanto para baixo".

Reformas. Dilma afirmou também que serão necessárias reformas profundas para o País, mas admitiu que para isso é preciso unidade. Ela criticou, por exemplo, as chamadas pautas-bomba votadas no Congresso, consideradas por ela como "disfunções" e citou, entre elas, o projeto de decreto legislativo (PDL) do deputado Espiridião Amin (PSD-SC) que altera contabilização das dívidas dos Estados com a aplicação de juros simples em vez dos juros compostos. Segundo a Fazenda, a medida tem o potencial de gerar um rombo superior a R$ 300 bilhões aos cofres da União.

"Uma pauta-bomba (que) veio da Câmara (são) os juros simples. Estamos brigando com ele (PDL), pergunta pro Nelson Barbosa, desde o primeiro dia de 2016. O deputado Espiridião Amin fez esse projeto terrível". Para Dilma, mais que os R$ 300 bilhões de perdas potenciais de receita, o problema maior é a paralisia que uma pauta-bomba como essa causa. "Nós termos que ir sistematicamente ao Congresso dizer: não façam isso, não podem fazer isso, isso é um absurdo para o País", disse. "Pauta-bomba é aquela pauta que a pessoa, ou o conjunto, acha que é possível sair de uma situação difícil colocando fogo em todo o restante."

Dilma lembrou que no ano passado ao menos cinco grandes pautas-bomba com R$ 140 bilhões de perdas para o governo tramitaram no Congresso. "Nós tivemos esse processo durante 15 meses, desde a minha eleição e não preciso comprovar, basta que vocês leiam o que vocês mesmos escreveram", afirmou. / COLABORARAM GUSTAVO PORTO,  ISADORA PERON E EDUARDO RODRIGUES

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