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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|'Se o destino me levar para essa função (Presidência) estarei preparado'

Vice-presidente evita falar em golpe e diz que, se impeachment não passar, 'nada mudará'

Foto do author Eliane Cantanhêde
Atualização:

Sereno e irônico, o vice-presidente, Michel Temer, reiterou ao Estado o que disse na gravação enviada – segundo ele por engano – a alguns parlamentares por Whatsapp esta semana: está preparado para assumir a Presidência da República, “se o destino me levar a essa função”.

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Na entrevista exclusiva, mesmo ressaltando que falava em tese, em um ato falho, referiu-se ao cargo atual no passado. “Ao longo desse período em que fui vice-presidente, e você sabe que estou completando cinco anos e pouco”, comentou ao falar de sua experiência pública.

O peemedebista disse que, se chegar ao cargo, pretende governar com diálogo com todos os partidos e voltou a dizer que manterá os programas sociais do governo. Sobre a possibilidade de permanecer no cargo, em caso de rejeição do impeachment, mais uma vez usou de ironia: “Se nada acontecer, tudo continuará como dantes, não é? Nada mudará”.

E em clara provocação à presidente Dilma Rousseff, evitou falar em golpe. “Não gosto de usar a palavra golpe, que está sendo muito indevidamente utilizada, politicamente utilizada”.

O senhor está preparado para ser presidente da República se o plenário da Câmara e depois o Senado Federal decidirem pelo impeachment da presidente Dilma?

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Em primeiro lugar quero reiterar a preliminar da sua pergunta. Cautelosamente, tenho que aguardar aquilo que a Câmara decidir e o Senado vier a decidir depois. Agora, evidentemente que, sem ser pretensioso, mas muito modestamente, devo dizer que tenho uma vida pública já com muita experiência. Não falarei aqui do meu currículo. As pessoas sabem o quanto fiz ao longo da vida. Tantas vezes secretário de segurança, três vezes presidente da Câmara dos Deputados, duas vezes procurador-geral do Estado e agora vice-presidente,conhecendo razoavelmente os problemas do País. Se o destino me levar para essa função, e mais uma vez eu digo que eu devo aguardar os acontecimentos, é claro que estarei preparado porque o que pauta a minha atividade é exatamente o diálogo. Não que eu seja capaz de, individualmente, resolver os problemas. Mas eu sei que por força do diálogo e, portanto, coletivamente, com todos os partidos,  com os vários setores da sociedade, nós tiraremos o País da crise.

E na hipótese contrária? O senhor está preparado para o caso de o impeachment não passar e o senhor ficar compelido a essa convivência difícil com a presidente Dilma e com o governo do PT?

A minha convivência será institucional, como sempre foi. E sendo institucional eu não tenho nada a temer, né? Na verdade, estarei tranquilo, aconteça o que acontecer.

Serão dois anos bastante atípicos na história brasileira, não?

É, mas ao longo desse período em que fui vice-presidente, e você sabe que estou completando cinco anos e pouco, nunca tive um chamamento efetivo para participar das questões de governo. De modo que, digamos assim, se nada acontecer, tudo continuará como dantes, não é? Nada mudará (risos).

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O senhor ouviu o ministro Jaques Wagner dizer que se o impeachment não passar, o senhor deve renunciar ao cargo. O que o senhor responde a ele?

Eu respondo que é o entusiasmo momentâneo do Jaques Wagner, que é uma figura delicada e educada. Naturalmente há um arroubo, digamos assim, que muitas vezes toma conta das pessoas, por mais educadas e delicadas que sejam, como é o caso do nosso ministro Jaques Wagner.

Então, renunciar não?

Por favor, né... (risos)

No caso de o senhor renunciar, aliás, quem assumiria seria o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ.

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Sim, mas não há essa hipótese.

Está havendo romaria de políticos ao Palácio do Jaburu?

Olha, muitos me procuram, você sabe que eu mantenho uma discrição absoluta, embora seja apodado das mais variadas denominações, como por exemplo golpista. Mas, você sabe, e eu tenho anunciado isso, eu passei praticamente três semanas em São Paulo precisamente para que não me acusassem de nenhuma articulação. Agora, evidentemente, num dado momento, começou uma tal, digamos assim, uma guerra contra minha figura, tanto no plano político como no plano pessoal, e eu fui obrigado a me defender. Então o que eu faço hoje não é guerrear, é defender.

O senhor acha que essa guerra vai continuar em qualquer caso, passe ou não o impeachment?

Não creio, não creio. Essas coisas são passageiras. Logo as pessoas terão compreensão de tudo que é importante para o País.

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Essas pessoas que vêm aqui são de todos os partidos, do PP, PSD, PTB? O que eles vêm fazer?

Todos os partidos, até porque eles sabem, pela intensa convivência que tive ao longo dos 24 anos no Parlamento, que sempre convivi muito harmoniosamente com todos os partidos políticos.

No caso de o senhor tomar posse, o que o senhor dirá aos partidos políticos?

Olha, eu prefiro nem, digamos, não mencionar isso, porque estaríamos todos supondo que vou tomar posse. O que eu devo neste momento é aguardar a decisão da Câmara e a decisão do Senado. Se você me disser, "mas você não precisa se preparar para uma eventualidade?", é claro que eu tenho na minha cabeça as questões que eu trataria nessa eventualidade, mas eu prefiro primeiro aguardar o evento.

Mas o senhor já distribuiu aquela gravação em que o senhor praticamente toma posse. O senhor sentou na cadeira?

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(Risos) Eu não sentei na cadeira, não. Você sabe que, instado por amigos meus, que me disseram "você precisa se preparar, não é, por que afinal, daqui a alguns dias, se de repente acontecer alguma coisa, o que é que você vai dizer?". E daí, me explico mais uma vez, eu disse, "olha, eu vou fazer o seguinte, eu vou gravar uma coisa que, em tese, eu falarei, se, em tese, acontecer alguma coisa, e até peço que depois nós possamos burilar essas sentenças e essas palavras". E fiz uma gravação, e em vez de mandar para um amigo meu (risos), equivocadamente, eu mandei para um grupo de deputados e naturalmente vazou alguma coisa, que não tem importância nenhuma, porque o mérito, digamos assim, o conteúdo daquilo que eu disse eu já havia dito no passado e continuarei dizendo em qualquer momento, porque acho que é disso que o País precisa.

Disso o quê?

Exatamente da conciliação, da pacificação, do diálogo, da interação dos trabalhadores com os empregadores, da integração de todos os setores da nacionalidade, do prestigiamento da iniciativa privada, porque quando você prestigia a iniciativa privada, você gera emprego e evidentemente isso deriva ou faz acontecer exatamente aquela integração entre os setores produtivos do País, empregadores e empregados. A manutenção dos programas sociais e até com a sua revalorização, é isso que nós vamos fazer ao longo do tempo.

O senhor teme que a militância, o MST, a CUT e a UNE infernizem nas ruas o seu eventual governo?

Não acredito, porque todos eles têm certa e seguramente um sentimento patriótico, né. Quando nós vamos pregar a unidade do País, a pacificação do País, aqueles que não quiserem a pacificação estarão contra o desejo de todo o povo brasileiro e tenho certeza de que essas entidades mencionadas também têm o mesmo desejo.

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E caso contrário, a presidente Dilma tem condições de pedir a pacificação do País e uma união nacional?

Acho que em qualquer momento, aconteça o que acontecer, pregarei as mesmas coisas. E espero que quem me ouça tenha condições suficientes para, ouvindo, reproduzir em execução.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, e Valdir Raupp, que é um importante líder do seu partido, já defenderam publicamente a antecipação das eleições. Como o senhor vê isso?

Acho muito útil. Num estado democrático as pessoas têm que ter liberdade de manifestação. Eu pessoalmente sou contra por uma razão: sou muito apegado ao texto constitucional. Toda vez que se quiser sair do texto constitucional está se propondo uma ruptura com a Constituição. E toda e qualquer ruptura com a Constituição é indesejável para o País. A estabilidade do País e das instituições depende basicamente do que está na Constituição e nela não há hipótese de eleições gerais.

Eleição geral seria um golpe?

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Seria algo que rompe com a Constituição. Não gosto de usar a palavra golpe, que está sendo muito indevidamente utilizada, politicamente utilizada. Quando golpe, na verdade, é só quando se rompe com a Constituição.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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