Saída de Barbosa coloca mais um na lista de ‘ex-futuros-presidentes’, diz analista

Para o cientista político Alberto Almeida, segundo turno deve caminhar mais uma vez para candidatos ligados ou apoiados por PT e PSDB

Por Caio Sartori
Atualização:

A saída do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa da disputa eleitoral sepulta de vez a possibilidade de um ‘outsider’ chegar ao Planalto. A avaliação é do cientista político Alberto Almeida, da Brasili, que lança neste mês o livro O Voto do Brasileiro pela Editora Record.

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Almeida defende a tese de que a eleição deste ano ainda ficará polarizada pelos grupos políticos encabeçados pelo PT e PSDB e aposta em um enfraquecimento das candidaturas dos ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). Prevê também que a inexperiência administrativa do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) pode pesar contra o parlamentar, que lidera as pesquisas em cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso e condenado a 12 anos e 1 mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF. Foto: André Dusek/Estadão

O que significa a desistência de Barbosa? A saída dele foi boa, em primeiro lugar, para o eleitor. Economiza também o eleitor. Não faz sentido uma eleição presidencial com tantos candidatos, tantos partidos.

Mesmo com o desempenho nas pesquisas, acha que ele não tinha chances? Ia minguar no decorrer da campanha. O temperamento explosivo ia ficar evidente durante a campanha quando começasse a aparecer coisas da vida pessoal dele. E a saída bota mais um na lista dos ‘ex-futuros presidentes’. O João Doria, um ano atrás, já havia sido ‘eleito’ presidente. Depois o Luciano Huck e o Joaquim Barbosa. Isso é mais uma evidência da dificuldade que é disputar uma eleição nacional no Brasil, da dificuldade que é para alguém sem traquejo na política disputar uma eleição presidencial. Não é para qualquer um.

Ainda é possível surgir um novo outsider ou ninguém mais entra nessa? O que vemos é que os nomes surgiram e foram caindo, feito dominós. Vai ficando cada vez mais difícil, afunilando. É uma corrida de longa distância e alguns já começaram, se cansaram e ficaram no meio do caminho. Num estádio de atletismo, você tem a pista de aquecimento e a de competição. Eles estavam na de aquecimento e sentiram que não dava para entrar na de competição.

Quem tem mais a ganhar com essa desistência? Não dá para dizer, porque a votação do Barbosa, ainda que alta, tem percentuais por grupos sociais, regiões do Brasil, escolarização, tudo muito pequeno. Tem um erro grande de interpretação. Não dá para dizer de quem ele ia tirar votos. O que eu acho é que dá para dizer que seria uma campanha em que ele sofreria muito. Eu tenho a visão de que a Marina e o Ciro correm o risco de entrar na campanha mais altos do que vão terminar. Vão perder votos durante a campanha.

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Se o PSB for para a chapa do Alckmin, pode ajudar o tucano a retomar São Paulo (hoje dividida com Bolsonaro, segundo as pesquisas) e melhorar no Nordeste, com a força que o partido tem em Pernambuco? Acho que em São Paulo é mais a máquina do governo estadual, a capacidade de agregação do governador Márcio França (que vão dar força a Alckmin). Em Pernambuco, não. Eles sabem que o eleitorado tem preferência pelo candidato do PT.

Então qual é o papel do PSB a partir de agora? Acho que é o caminho de qualquer partido de médio para pequeno: tentar eleger deputados, senadores, governadores. Acho que não tem chances para presidente.

Mas na eleição presidencial acha mais provável eles irem para o Alckmin ou para o Ciro, por exemplo? Acho que podem não apoiar ninguém, assim como o MDB. E aí o tempo de TV ficaria rateado.

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Com base nos seus estudos para o novo livro (que analisa as eleições nacionais desde 2006), qual cenário acha mais provável para outubro? O mais provável é um segundo turno entre PT e PSDB, independentemente de quem for o candidato do PT, que eu acho que é o Jaques Wagner. Tem experiência de governador. O eleitor, numa situação de crise, vai querer votar em pessoas experientes - que é, inclusive, o problema do Bolsonaro. O eleitor vai olhar para o Bolsonaro e perguntar o que ele fez na vida, qual é a experiência dele.

Qual vai ser o tema decisivo? Vai ser a situação financeira das famílias, o poder de compra, a crise econômica. A experiência entra como subsidiária disso. A ideia de que o cara, para afastar a crise, precisa ter experiência de governo.