Réu do mensalão mineiro, Azeredo diz que vai se aposentar

Um ano após a renúncia ao mandato de deputado, processo contra tucano está parado na Justiça à espera de sentença

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Por Marcelo Portela
Atualização:

BELO HORIZONTE - Passado um ano da renúncia ao mandato de deputado federal, o tucano Eduardo Azeredo, réu no processo do mensalão mineiro, participa da vida partidária mas perdeu o poder de decisão no PSDB. Ao Estado, ele afirma que irá se aposentar da vida política. "Estou com 66 anos e fui governador, fui senador. Eu fiz minha parte. Tem mais gente aí agora para fazer", disse, informando sua decisão de não disputar mais eleições.

O processo contra Azeredo, que agora tramita na 9ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, em Minas Gerais, está parado. Falta apenas a sentença, que será proferida pela juíza Neide da Silva Martins. No entanto, de acordo com a assessoria do fórum, não há prazo para a magistrada tomar sua decisão.

Ex-deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Em 19 de fevereiro de 2014, o parlamentar desistiu do mandato na Câmara. A renúncia ocorre pouco depois de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomendar sua condenação a 22 anos de prisão. Com isso, o caso sai do Supremo Tribunal Federal (STF) – onde tramitam casos contra autoridades com foro privilegiado – e é foi transferido para a primeira instância da Justiça.

Ao apresentar suas alegações finais na ação que tramitava no Supremo, Rodrigo Janot pediu a condenação do tucano pelas acusações de peculato e lavagem de dinheiro. Segundo Janot, Azeredo atuou como "um maestro" do esquema do mensalão mineiro, que consistiu, segundo a acusação, em desviar recursos de estatais mineiras para financiar a campanha eleitoral do tucano em 1998, quando ele disputou sem sucesso a reeleição ao governo de Minas Gerais.

Partido. Desde que renunciou, Azeredo raramente faz aparições públicas. Participa de reuniões partidárias, mas não toma decisões. "Ele é uma pessoa muito querida e muito experiente, mas não tem nenhuma função formal. Às vezes participa de conversas informais, sempre ajuda, vai a Brasília conversar com a gente, mas se afastou da vida partidária direta", conta o presidente do PSDB mineiro, deputado federal Marcus Pestana.

Azeredo também diz que manterá a militância partidária, mas garante ter desistido da vida pública. "Não penso em disputar mais eleição. (Mas) sou fundador do partido e continuo participando das atividades. Esta semana (semana passada) participei de jantar com a bancada federal."

O tucano afirma ter interesse em uma decisão no processo judicial, e diz não se considerar beneficiado com a demora na sentença. "Tenho convicção, como aqueles que me conhecem, na minha absolvição", argumenta.

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Em sua defesa, Azeredo alega que as "questões financeiras" da campanha eleitoral de 1998 "não eram de sua responsabilidade". E que a aquisição de cotas de patrocínio de estatais mineiras - uma das formas de desvio de recursos, segundo a acusação - "não é da alçada de um governador de Estado".

Ele também nega que sua renúncia ao mandato de deputado tenha sido uma manobra para atrasar a ação judicial. Afirma que deixou o Congresso devido à acusação do Ministério Público. "Eu renunciei porque o procurador geral havia extrapolado. Este foi um dos motivos que me levaram a desistir da vida pública", diz.

Como ex-governador de Minas, Azeredo tem direito ao salário integral do cargo, atualmente de R$ 10,5 mil. Além de senador e deputado federal, o tucano foi prefeito de Belo Horizonte - elegeu-se vice-prefeito e assumiu quando o titular, Pimenta da Veiga, renunciou ao cargo.

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Valério. O processo contra o tucano é uma das ações do mensalão mineiro, que também teve o envolvimento do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Ele cumpre pena em uma presídio em Minas Gerais depois de ter sido condenado pelo STF a mais de 37 anos de prisão no julgamento do mensalão federal.

As demais ações também tramitam na 9ª Vara Criminal do Fórum Lafayette. São réus Marcos Valério e oito pessoas, entre as quais o ex-senador Clésio Andrade (PMDB). O processo contra o peemedebista tramitou no Supremo quando ele assumiu vaga no Senado, em janeiro de 2011, e retornou à primeira instância após sua renúncia ao mandato, também em julho passado.

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