PUBLICIDADE

Resistência das bancas diminui com operação

Antes alvo de rejeição, hoje, até críticos consideram delações premiadas estratégicas

Foto do author Fausto Macedo
Por Mateus Coutinho , Fausto Macedo e Valmar Hupsel Filho
Atualização:

Presente no ordenamento jurídico brasileiro desde a década de 1990, a colaboração premiada se disseminou com o avanço da Operação Lava Jato, modificando, com o tempo, a forma com que advogados e investigados encaram o instrumento. Se no início havia forte resistência, atualmente até ferrenhos críticos consideram a delação uma importante estratégia de defesa, “que veio para ficar”. Defensores, contudo, avaliam que a colaboração premiada carece de melhorias e sedimentação na jurisprudência brasileira.  “A delação é um instrumento antipático. Ninguém gosta de fazer. Nem o delator, nem o advogado. Mas veio para ficar e isso aconteceu em todos os países que adotaram o instrumento”, diz a advogada Fernanda Tórtima, que tem entre seus clientes o ex-presidente da Transpetro e delator Sérgio Machado.  Segundo ela, é compreensível que o investigado que colabore com informações relevantes para a investigação tenha benefícios, como redução da punição. A advogada, no entanto, discorda que os acordos resultem em penas brandas e desproporcionais aos crimes cometidos. “É claro que o delator tem vários ônus, como (a exposição pela) confissão de crimes, restrições de liberdade e pesadas multas.” Interesses. O criminalista Marcelo Leonardo afirma que, apesar de não ter simpatia pela delação, o advogado deve aceitar fazer quando esta for a vontade do cliente. “Não tenho nenhuma simpatia pela delação premiada, mas, para atender aos interesses do cliente, a gente fecha o nariz e fecha o acordo.” Leonardo representa a cúpula da empreiteira Mendes Júnior e o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que negociam acordo de delação premiada na Lava Jato. Um dos signatários de um manifesto contra práticas adotadas na operação, as delações entre elas, divulgado por advogados em janeiro, David Rechulsky alerta para a banalização do método. “Antes desta operação te garanto que 99% dos criminalistas não considerariam a delação como estratégia de defesa”, diz, lembrando que advogados estão se especializando na área. Defensor de duas empresas investigadas, Rechulski diz que vê a ferramenta como uma alternativa da defesa. “Não tenho dúvidas de que é cada vez mais comum, mas eu mesmo não trabalho com (a) delação como uma primeira linha de defesa, mas sim como uma alternativa a depender das nuances do caso e da decisão do cliente".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.