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Renan enfrenta ´sangria´ e muda de estilo para se defender

Renan visita pessoalmente todos os líderes para apresentar provas de sua defesa; força política do presidente do Senado será medida na próxima terça-feira

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Por redacao
Atualização:

A crise que envolve o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o obrigou a mudar seu estilo, sair dos bastidores e tomar a frente de sua defesa nas acusações de ter despesas pessoais pagas por suposto lobista de construtora. Diante do risco de se inviabilizar no cargo, o normalmente discreto senador enfrentou as câmeras de TV e deixou seu gabinete presidencial para visitar os colegas. Mais que isso, aceitou a inversão do ônus da prova e pediu ao Conselho de Ética que adiasse a votação de um relatório que lhe era favorável para que os documentos que apresentou fossem periciados e os envolvidos no caso que o ameaça, ouvidos. Renan visitou pessoalmente todos os líderes, inclusive os da oposição, para apresentar recibos, notas fiscais e dados sobre o comércio de gado em suas fazendas no interior de Alagoas. "Fiz questão de fazer uma visita a todos os senadores não para formar cabeças, mas para trazer a verdade", disse Renan a jornalistas. A atitude surpreendeu os que conhecem a maneira de agir do senador e revelou sua preocupação com o rumo do processo que tramita contra ele no Conselho de Ética. "As informações que ele prestou parecem ter alguma lógica, mas ainda preciso analisá-las com mais atenção", afirmou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), depois de receber a principal autoridade do Congresso no gabinete do também oposicionista Marconi Perillo (PSDB-GO). Há três semanas "sangrando", como ele mesmo diz a pessoas próximas, Renan viu sua situação ficar ainda mais difícil após reportagem do Jornal Nacional da última quinta-feira jogar dúvidas sobre a versão de que seus rendimentos agropecuários seriam a fonte do dinheiro pago à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Operação de emergência Diante do clima tenso, o presidente do Senado decidiu montar uma operação de emergência para se defender: acionou seu advogado, recolheu documentos e ficou até as 3 horas da manhã disparando telefonemas a colegas, conforme relataram alguns interlocutores. "Ele me ligou já bem tarde. Disse estar convicto de que seus documentos são verdadeiros. Ele estava seguro e tranqüilo", relatou o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB. Para afinar o diálogo com o PSDB, que exigia o depoimento de testemunhas e perícia nos documentos apresentados, Renan escalou um importante aliado como emissário, o governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), que saiu às pressas do Estado para chegar a Brasília ainda na manhã de sexta-feira. Depois de concluir que seria um erro colocar em votação já nesta sexta o parecer do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) no Conselho de Ética, sem cumprir o ritual pedido pela oposição, o presidente do Senado decidiu concordar com o adiamento da sessão para próxima terça-feira. "O que são quatro dias para quem já está há 20 no olho do furacão", avaliou Renan, segundo um correligionário. O relator resistiu à alternativa o quanto pôde e ameaçou deixar o posto se seu relatório não fosse votado nesta tarde, mas acabou atendendo aos apelos de sua mulher, que lhe telefonou a pedido do próprio Renan. Habilidoso articulador O presidente do Congresso é conhecido como um habilidoso articulador que atua muito nos bastidores. Ele raramente assume em público suas pretensões políticas. Desde o ano passado em disputa velada à Presidência do Senado, ele só assumiu a candidatura na semana da eleição. No centro da crise, evitou o quanto pôde criticar a imprensa. Nesta manhã, fugiu ao tradicional perfil e, pela primeira vez, questionou a "ética no jornalismo". O futuro de Renan ainda é incerto. Há no Senado disposição de absolvê-lo. O governo tem maioria no Conselho de Ética, mas Renan deseja votos favoráveis da oposição para aumentar sua credibilidade junto à opinião pública. A força política de Renan será medida na terça-feira, após a perícia nos documentos e uma avaliação do que sair na imprensa até lá.

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