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Relatório da ONU induz a erro e exagera violência em SP

Dados antigos apresentados como novos escondem queda de morte violentas na cidade

Por BBC Brasil
Atualização:

Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) apresentado nesta semana induz ao erro e exagera números relativos à violência na cidade de São Paulo. O documento de 448 páginas apresentou em um quadro uma série de dados sobre a violência na cidade. Entre as afirmações feitas estava a de que a cidade de São Paulo respondeu por 1% dos homicídios em todo o mundo, apesar de ter apenas 0,17% da população do planeta. No título do quadro e na referência biográfica, o documento cita o ano de 2006, dando a entender que a afirmação se referia a esse ano. A base para a afirmação, no entanto, é uma reportagem publicada em 2006 no jornal argentino La Nación. Na reportagem, o jornalista usa um estudo de 2002 da Organização Mundial da Saúde (OMS) para fazer a afirmação. No quadro que apresenta os dados, não há nenhuma referência ao estudo da OMS nem ao ano em que ele foi feito. Organizações não-governamentais, acadêmicos e alguns blogs no Brasil reagiram à notícia e criticaram o relatório, cujas informações foram reproduzidas em diversos meios de comunicação no país, inclusive em uma reportagem da BBC Brasil. A UN Habitat, com sede em Nairobi, no Quênia, reconheceu que o dado havia levantado dúvidas de outras organizações multilaterais, como o Banco Mundial, mas disse apenas que irá checar os dados. "Temos confiança de que as fontes indicadas estão citadas corretamente. Entretanto, vamos checar novamente a informação para identificar eventuais erros tipográficos", foi a resposta da assessoria de imprensa à BBC Brasil. Estatísticas de variadas procedências e diferentes metodologias mostram que o documento não retrata com precisão a violência em São Paulo e exagera a situação. De acordo com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP), uma das fontes de informação que alimentam as estatísticas da ONU, os homicídios na cidade de São Paulo caíram de 6.102 em 2000 para 3.955 em 2004, último ano com dados coletados pelo núcleo. Isso representa uma queda de mais de 35% em quatro anos. Como a OMS estima que cerca de 520 mil pessoas são mortas a cada ano no mundo - um cálculo feito em 2002, mas que a entidade estima ser semelhante ao dos dias atuais -, a 'fatia' de São Paulo nos homicídios mundiais passou de 1,17% para 0,76% entre 2000 e 2004. Em 2002, quando a cidade teve 5.318 assassinatos, ainda de acordo com o NEV/USP, a relação era de fato de 1%. O NEV/USP diz que calcula o número de homicídios com base em "cruzamento de informações" de diversas fontes, como polícias estaduais, hospitais e institutos médicos legais. A Fundação Seade, que cruza dados do Datasus e da polícia estadual, calcula que os homicídios na capital paulista chegaram ao pico de 6.363 em 1999, caíram para 6.206 no ano seguinte, para 5.596 em 2002. Ainda segundo a Seade, houve nova queda em 2004, para 4.223, e finalmente para 3.492, em 2005 - último ano com dados oficiais já coletados. Ou seja, por esse levantamento - que é diferente do usado pela OMS em 2002 - a proporção das mortes violentas em São Paulo em relação ao total no mundo seria ainda menor e estaria em queda. Outro dado citado com imprecisão no relatório da ONU afirma que São Paulo teve 11.455 assassinatos em 1999. Na verdade, o dado, extraído de um estudo de 2005 do Instituto Fernand Braudel, diz respeito à Grande São Paulo, que inclui as 39 cidades da região metropolitana.   BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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