'Procurador-geral é hoje o homem mais poderoso da República', diz Humberto Costa

Senador petista, cujo nome está na lista dos políticos que poderão ser investigados pelo Supremo por envolvimento na Lava Jato, subiu ao plenário do Senado nesta segunda para se defender

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Por Ana Fernandes
Atualização:

São Paulo - O senador Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado, usou o plenário na tarde desta segunda-feira para fazer um discurso de autodefesa, por seu nome ter aparecido na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de políticos investigados na operação Lava Jato. Dizendo ter profundo respeito por Janot, o senador petista declarou que a abertura de inquérito se tornou numa condenação prévia dos políticos citados e que, por isso, o procurador se tornou "o homem mais poderoso da República". 

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"O procurador-geral, hoje, é o homem mais poderoso da República, com poder de culpar ou inocentar alguém antes de ser julgado. Sempre admirei a postura do doutor Janot porque ele nunca agiu desta maneira, portanto acho que foi ponto fora da curva."

Costa disse ter recebido com surpresa e indignação a notícia de seu nome constar da lista. "Não me considero melhor nem pior do que ninguém, mas sempre pautei minha conduta pela lisura pela correção, pelo respeito á coisa pública e especialmente pelo respeito àqueles que sempre me honraram com seu voto e sua confiança", afirmou.

O petista disse viver a sensação de uma "profunda injustiça". Ao lembrar de quando foi citado na operação Vampiro, Humberto Costa disse estar sendo submetido pela segunda vez à "tortura pública" de responder em processos nos quais não teve envolvimento - em 2010 Costa foi inocentado por acusações de corrupção relacionadas ao período em que foi ministro da Saúde. O senador lamentou passar novamente, em suas palavras, por "linchamento moral" e "acusações torpes".

O senador Humberto Costa (PE), lider do PT no Senado, disse que recebeu com indignação a notícia de que seria investigado na Lava Jato."O procurador-geral, hoje, é o homem mais poderoso da República, com poder de culpar ou inocentar alguém antes de ser julgado", afirmou Foto: ED FERREIRA/ESTADAO

O líder petista no Senado repetiu diversas vezes ser inocente, argumentando ter uma vida pública reconhecida. "Manifesto minha total incompreensão, mas não esmorecerei, não baixarei minha cabeça. E tenho a correção da minha vida para mostrar ao povo brasileiro."

Humberto Costa argumentou que a menção de seu nome na delação do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa foi inconsistente e apresentou contradições em relação ao depoimento do doleiro Alberto Youssef. Segundo Paulo Roberto, a campanha de Humberto Costa ao Senado em 2010 recebeu R$ 1 milhão do esquema de propinas da Petrobrás por solicitação do empresário Mário Barbosa Beltrão, amigo de infância do petista e presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco (Assimpra).

"Há incoerências e contradições nos depoimentos dos dois réus", argumentou.

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Ele afirmou que todas as doações que obteve foram legais, auditadas e aceitas pela Justiça Eleitoral. E disse acreditar que, assim como ele, outras pessoas citadas na lista foram injustiçadas. "Vários dos citados sei que são pessoas decentes, de bem e querem que isso seja passado a limpo o mais rápido possível", disse ao pedir celeridade a Janot na investigações da Lava Jato e que a Polícia Federal cumpra o prazo estimado de 30 dias para realizar as diligências.

"Não quero nenhum tipo de benesse, quero a Justiça, que se apure em 30 dias e diga se tenho algum envolvimento com essa operacao Lava Jato."

Doações. Costa pediu também em seu discurso que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, libere o pedido de vista sobre a ação direta de inconstitucionalidade ao projeto que pede o fim de doações de empresas para campanhas eleitorais. Costa repetiu a argumentação do PT de que a doação das empresas é a chaga do sistema atual e que transforma a atividade política em "atividade de risco".

O senador argumentou que "querem cassar o mandato da presidenta por causa de doações que depois descobrem irregulares", em referência indireta às manifestações por impeachment organizadas nas redes sociais para o dia 15 de março. Ele sugeriu que os manifestantes pressionem e peçam, durante as manifestações, para que Gilmar Mendes dê seu parecer e permita que o projeto seja analisado pelo Congresso Nacional.

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