Pressionado, PSDB adia decisão sobre desembarque

Tasso Jereissati, presidente do partido, afirma que ‘não vai parar de ter fato novo’ sobre Temer, o que pode ir ‘mudando a cabeça de deputados e senadores’

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Foto do author Pedro  Venceslau
Por Pedro Venceslau , Renan Truffi e Isabela Bonfim
Atualização:

Em mais uma investida para tentar impedir o desembarque do PSDB do governo Michel Temer, emissários do presidente e ministros tucanos estão pressionando os deputados do partido que defendem o rompimento com o Palácio do Planalto, os chamados “cabeças pretas”, a recuar do movimento. 

O PSDB chegou a convocar líderes tucanos do Brasil inteiro para uma plenária nesta quarta-feira, 7, em Brasília que deveria ter selado a posição da legenda, mas o encontro foi adiado para segunda-feira, 12, por receio de um “rompimento precoce”. “Nem Mãe Dinah adivinharia o resultado da reunião”, disse ao Estado o deputado federal Ricardo Tripoli (SP), líder do PSDB na Câmara, citando a vidente. 

Senador Tasso Jereissati, presidente da Comissao de Assuntos Economicos (CAE) do Senado Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

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Em caráter reservado, os parlamentares da sigla avaliam que, apesar dos telefonemas e apelos, existe hoje uma maioria favorável ao desembarque. No entanto, a aposta dos “cabeças brancas” – como são chamados os caciques do partido, contrários ao desembarque – é de que o humor da bancada deve mudar se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolver Temer no julgamento da chapa Dilma Rousseff-Temer.

Ao justificar o adiamento, o senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do PSDB, foi taxativo ao dizer que segunda-feira é o prazo limite para uma decisão. “Não precisamos ter cargo e ministério para apoiar as reformas”, afirmou.

O dirigente também comentou o fato de Temer, quando era vice-presidente, ter viajado em jatinho da JBS em 2011. “Não vai parar de ter fato novo e isso vai mudando a cabeça de deputados e senadores”, disse Tasso.

Dos quatro ministros do PSDB no governo Temer procurados pela reportagem, apenas Aloysio Nunes Ferreira, das Relações Exteriores, foi localizado. Ele respondeu, por meio de sua assessoria, que “não está pressionando ninguém” e que “cada um é dono de sua vida”. Os demais ministros de Temer são Bruno Araújo (Cidades), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).

Tasso está sofrendo forte pressão “dos dois lados”. Enquanto ministros e caciques da Executiva querem permanecer ao lado de Temer, a base do partido nos Estados defende a entrega de todos os cargos no governo federal.

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Para tentar dar um caráter institucional e “inquestionável” à decisão, ele ampliou o “colégio eleitoral” que se reunirá na segunda-feira. Em vez de consultar apenas a Executiva, o presidente interino convocou as bancadas no Congresso e todos os presidentes estaduais do PSDB. 

Estados. Pelo menos dois diretórios tucanos – do Rio e do Rio Grande do Sul – se posicionaram em defesa do desembarque do governo. Em São Paulo os tucanos também caminhavam para esse desfecho, mas um concorrida plenária com cerca de 300 quadros do partido realizada na segunda-feira passada acabou sem que o tema fosse encaminhado para votação, após um discurso inflamado do prefeito João Doria contra o rompimento com o governo Temer.

O presidente do braço paulista do PSDB, deputado estadual Pedro Tobias, defendeu publicamente a entrega dos cargos, mas o governador Geraldo Alckmin pediu “cautela”.

Tobias deve se reunir nesta quinta-feira, 8, com Tasso em Brasília e engrossar o coro dos “cabeças pretas”.

Por receio de desgaste eleitoral no ano que vem, um grupo de deputados tem ameaçado até deixar o PSDB. Outros defendem a “refundação” da sigla.

A permanência do PSDB na base governista é considerada pelo Palácio do Planalto determinante para evitar uma debandada geral de aliados.

No julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE, os governistas apostam em uma vitória apertada na votação, por 4 votos a 3. Se isso acontecer, avaliam, o presidente Michel Temer ganhará fôlego para tentar reorganizar sua base e segurar o PSDB em cima do muro, pelo menos por mais algum tempo. / COLABOROU THIAGO FARIA

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