PUBLICIDADE

Prefeitura 'derruba' Costa e Silva

Relatório da comissão motiva remoção de busto

Por Elder Ogliari
Atualização:

Porto Alegre - A prefeitura de Taquari (RS) retirou o busto de Arthur da Costa e Silva da Lagoa Armênia, na região central do município, depois de saber que o relatório final da Comissão Nacional da Verdade responsabilizou os presidentes do regime militar (1964-1985) por violações de direitos humanos. Nascido na cidade gaúcha em 1899, Costa e Silva governou o País entre março de 1967 e agosto de 1969.

PUBLICIDADE

O monumento foi desmontado na tarde de terça-feira e, em seguida, levado à Casa Costa e Silva, museu mantido pela prefeitura que homenageia o ex-presidente na casa onde ele viveu alguns anos na infância. Ao lado do busto será colocada uma cópia do relatório da CNV. O prefeito Emanuel Hassen de Jesus (PT) diz que, com isso, o município preserva sua história e oferece os dois lados dela aos visitantes.

“O relatório aponta que o ex-presidente foi responsável por atrocidades em período nebuloso e nós entendemos que, diante disso, não cabia mais a homenagem no nosso principal ponto turístico”, justificou.

Admitindo que a atitude pode gerar polêmicas, o prefeito afirma que “a discussão é salutar na democracia, algo que o ex-presidente não gostava”. E compara os diferentes momentos da história brasileira. “No tempo dele (Costa e Silva) não se podia contestar nada; hoje todos podem ser contra ou a favor”, compara.

Descontentamento. Vereador pelo PSDB e comerciante, Renê D’Ávila Marques diz que bastou a informação de que o busto havia sido transferido para começar a perceber manifestações de descontentamento de eleitores e clientes. “Eles são contrários e pedem que a gente faça alguma coisa”, relata.

A bancada tucana, formada por dois parlamentares, é toda a oposição na Câmara. Os outros sete vereadores são do PT, PDT, PSD e PMDB. Marques acredita que, assim que o debate aparecer nos meios de comunicação locais, a prefeitura terá de dar explicações. “Se quisesse fazer isso com apoio da população, o prefeito deveria ter recorrido a uma consulta pública ou, ao menos, levar o tema à Câmara.”

O vereador, que ficou contrariado com a mudança, entende que a história dos anos de chumbo ainda está por ser “averiguada” e prefere lembrar que no governo Costa e Silva o município recebeu acesso asfáltico, uma indústria e um ginásio de esportes.

Publicidade

Antes do prefeito de Taquari e do relatório da CNV, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre já havia aprovado a troca do nome da principal via de acesso à cidade pelo norte de Avenida Castelo Branco – também homenagem a um presidente do regime militar – para Avenida da Legalidade. Como o prefeito José Fortunati (PDT) não sancionou e nem vetou o projeto no prazo legal, a alteração foi promulgada pela Câmara no dia 1.º de outubro. O novo nome da avenida lembra o movimento liderado pelo então governador Leonel Brizola para assegurar a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros em 1961.

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.