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Prefeitura de Miguel Pereira queima cerca de 200 livros

Por Agencia Estado
Atualização:

Pelo menos 200 livros foram queimados por decisão da prefeitura de Miguel Pereira, na região serrana do Estado, administrada pelo PSB. A pedagoga Vânia Queiróz, secretária municipal da Educação, argumenta que a destruição ocorreu porque "eram apenas romances tipo Sabrina, livros didáticos desatualizados e exemplares com páginas faltando". No entanto, Vânia admitiu que queimar os livros foi um erro e disse nesta quarta-feira que temia ser demitida, em entrevista ao Estado. Segundo ela, a prefeitura recebeu de moradores uma doação de 400 livros para montar uma biblioteca popular na zona rural da cidade, mas apenas a metade dos exemplares foi aproveitada pelos dois professores - um de história, outro de português - escalados para fazer a seleção. Entre os livros queimados, havia obras da escritora Raquel de Queiroz. "Na seleção, vimos que tinha muita coisa tipo aqueles romances Sabrina, Bianca, livros com grafia ultrapassada e até coisa obscena. Não dava para criança ler isso. Era apenas refugo, tinha coleções de 1934. Não eram livros inteiros, não tinha validade para ser usado na biblioteca. Na limpeza, o pessoal colocou fogo mesmo", disse Vânia. Depois, ela admitiu que estava "aborrecida" com a repercussão negativa do ato. "É uma coisa desagradável. Tenho 35 anos de magistério. A imprensa denigre o trabalho de pessoas sérias. A gente não faria isso se os livros estivessem inteiros. Estava tudo picado, depenado. Na verdade, ninguém me perguntou se podia queimar, mas não posso transferir responsabilidades. Eles erraram ao queimar. Os livros poderiam ter outro destino, como a reciclagem?, argumentou a secretária. "Estou só esperando a ligação do prefeito, que vai querer advertir o responsável. Vamos esperar a conseqüência." Procurado pela reportagem, o prefeito de Miguel Pereira, Fernando Pontes Moreira (PSB), estava ontem em Brasília, e não foi localizado. O acadêmico Tarcísio Padilha, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), lamentou a decisão da prefeitura. "A queima de livros sempre esteve associada a tiranias, sempre foi um meio de fazer calar o pensamento. Em princípio, não há sentido, a não ser que fosse impossível ler os livros. O que pode ser aproveitado de alguma maneira deve sempre ser preservado. Deploro isso, caso realmente houvesse alguma forma de aproveitar os livros." Segundo ele, a ABL está disposta a doar livros para as bibliotecas de cidades como Miguel Pereira.

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