PRB cresceu e mereceu mais espaço, diz dirigente

Presidente do PRB descreve o acerto para que partido ligado à Igreja Universal obtivesse o comando do Ministério do Esporte

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Por Pedro Venceslau
Atualização:

Presidente nacional do PRB desde 2011, Marcos Pereira é pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e foi vice-presidente da Rede Record, emissora que pertence ao fundador da Universal, Edir Macedo. Sob seu comando, a sigla saltou de oito deputados em 2010 para 21 na última eleição. E foi ele quem conduziu as negociações para que George Hilton assumisse o Ministério do Esporte. Nesta entrevista, Pereira explicita a lógica da negociação de cargos no governo e como são usados para expandir o partido.

Marcos Pereira, deputado federal e presidente do PRB Foto: Gabriela Bilo/Estadão

Por que o partido trocou o Ministério da Pesca pelo Esporte?Com o crescimento da bancada do PRB, colocamos para a presidente Dilma Rousseff que queríamos outro espaço, condizente com o tamanho do partido. Uma das opções foi o Esporte, mas não foi a única que demos. Quais foram as outras?Demos três opções. A primeira foi a Integração Nacional, caso o governo olhasse o bloco. Estamos formando um bloco com os dez menores partidos, entre eles o PHS, o PMN e o PT do B, que terá em torno de 30 deputados. Isso nos dá o direito de pedir a verificação de contagem e, consequentemente, a obstrução (de votações no Congresso). Mas quando conversamos com a presidenta Dilma o bloco não estava formado ainda. Então o governo disse que analisaria a questão pela bancada de cada partido da coligação. Sendo assim, pedimos Turismo ou Esporte.Vocês estão em várias secretárias estaduais de Esporte. A estratégia é verticalizar politicamente as ações para o setor?Foi uma estratégia pensada. Se a gente tivesse pego outro ministério, eu tentaria alinhá-lo. Eu soube que vários governadores indicaram seus secretários para pastas ligadas (ao ministério da área). Para contemplar o PSD, por exemplo, os governadores indicaram ao partido pastas ligadas a habitação, já que o (Gilberto) Kassab está no Ministério das Cidades. Isso é natural. O próprio PC do B fez isso.Por que você escolheu George Hilton para o Esporte, sendo que ele não tem relação com a área?Não fui eu que escolhi, foi a presidente. Eu indiquei ele e o Júlio César, que foi secretário de Esporte do Agnelo (Queiroz). Ele tinha afinidade com a pasta, mas ela escolheu o George Hilton. Ele não tem relação com esporte, mas o Aldo (Rebelo) tinha?Não é necessário que um ministro seja ligado à área?Claro que não. O cargo de ministro é político. Existe a intenção de privilegiar programas contra as drogas, que são o carro-chefe do braço social da Igreja Universal?Eu recomendei ao ministro (George Hilton) e aos nossos secretários que não misturem as coisas. A Igreja Universal tem um trabalho social bonito com os jovens, mas não pensamos em beneficiá-la. Nem a ela, nem a (TV) Record. Eu já falo logo porque sei que você vai perguntar. Veja nos meus olhos que não estou brincando.

Ele (Júlio César) tinha afinidade com a pasta, mas ela (Dilma Rousseff) escolheu o George Hilton. Ele não tem relação com esporte, mas o Aldo (Rebelo) tinha?

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Mas existe uma ligação entre o PRB e a Universal.Dos 21 deputados federais eleitos, metade não é da Universal. Temos 32 deputados estaduais e metade não é da Igreja. A pergunta tem um tom de preconceito. Há uma preocupação da imprensa. Acham que a gente vai misturar as coisas. Nem todos os políticos da Universal são do PRB. Por mim, seriam. Durante a campanha eleitoral, o sr. conversou com a presidente sobre o apoio dos evangélicos?Na primeira (conversa) dela com os presidentes de partido, o presidente do PROS (Eurípeder Júnior), que é filho de evangélicos, comentou que encontrou dificuldade de levar o nome dela nas igrejas. Eu disse que quem era do meio estava encontrando forte resistência ao nome da presidenta. Não por causa dela, mas pelas bandeiras do partido, como casamento gay. Sugerimos então criar um comitê para tratar com os evangélicos: eu, Kassab e Eurípedes.

A bancada evangélica cresceu. Acredita que esta legislatura será mais conservadora?Não só pelo aumento da bancada evangélica, mas pelo aumento dos conservadores em si. Tem a bancada da família, que é composta pelos católicos. Em 2010, foram eles que bateram na questão do aborto. Mas quem leva a fama são os evangélicos. A imprensa coloca sempre a culpa nos evangélicos, os católicos são maioria e tão conservadores quanto. Em 2005 George Hilton, então deputado estadual pelo PFL, foi flagrado carregando malas de dinheiro. Esse fato não foi levado em conta na escolha dele?Antes da confirmação (de Hilton para o Esporte), o (Aloizio) Mercadante (ministro da Casa Civil) pediu explicação. Ele é um pastor. Estava transportando dinheiro da Igreja, de dízimo. O dinheiro não foi apreendido. Há uma suspeita sobre o uso de carteirinhas da Pesca para fins eleitorais. Das 27 superintendências, 17 são ocupadas por filiados do PRB...O normal seria indicar as 27, mas não pude por questões políticas. Quando (Marcelo) Crivella (ex-ministro da Pesca) assumiu, em 2012, já tinha um encaminhamento. Até então era do PT. Como é o partido do governo, a gente teve que ceder alguns Estados. A questão da carteira foi fomentada por lideranças locais que perderam a eleição e tinham o controle disso. Quem o partido apoia para a presidência da Câmara?O PRB fez anúncio de apoio ao Eduardo Cunha (candidato do PMDB). Mas agora que formamos um bloco, vamos ver o posicionamento dos outros partidos.

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