PP nacional acabou, diz deputado gaúcho citado na Lava Jato

Jerônimo Goergen, filiado ao partido, nega envolvimento com esquema e vê impacto do escândalo à legenda; das 50 pessoas a serem investigadas, 30 são ligadas à sigla

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Por Gabriela Lara e CORRESPONDENTE
Atualização:

Porto Alegre - O deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS), que consta na lista de políticos que serão investigados por suposto envolvimento no esquema de desvios na Petrobrás, afirmou nesta segunda-feira, 9, não ter dúvidas de que o PP nacional "acabou". Entre as 50 pessoas que serão investigadas, 30 são filiadas ao PP, entre elas integrantes da cúpula e parlamentares. Goergen nega envolvimento com o esquema e prometeu processar o doleiro Alberto Youssef, que o citou em depoimentos como um dos beneficiários no pagamento de propinas envolvendo contratos da estatal.

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"Não há dúvida de que o PP nacional acabou. Temos é que rever posição do PP-RS", disse o deputado em entrevista coletiva nesta manhã. De acordo com depoimento do doleiro, Goergen e outros deputados da bancada gaúcha do PP recebiam uma "mesada" que variava entre R$ 30 mil e R$ 50 mil.

Além de Goergen, outros cinco integrantes do PP-RS serão investigados: os deputados federais Luis Carlos Heinze, José Otávio Germano, Afonso Hamm e Renato Molling e o ex-deputado federal Vilson Covatti. "Não tenho outra alternativa que não seja recorrer à Justiça para que ele prove o que disse", afirmou a jornalistas em Porto Alegre.

Entre os demais citados ligados à legenda estão o presidente nacional, o senador Ciro Nogueira (PI) e o líder do PP na Câmara, Eduardo da Fonte (PE).

Na entrevista, Goergen revelou que "estranha" o fato de seu nome ter sido citado uma única vez na delação premiada, em fevereiro de 2015, justamente num momento em que fazia "alto enfrentamento" tanto à cúpula nacional do PP como ao governo federal. "Quero saber se (a investigação) tem alguma motivação política", falou. O diretório estadual do PP não apoia a aliança do partido com a administração de Dilma Rousseff (PT) e chegou a entrar na Justiça no ano passado para tentar impedir o resultado da convenção nacional, que chancelou a participação da sigla na coligação petista.

Goergen alega que o esquema denunciado por Youssef é anterior à sua chegada a Brasília, em 2011. "Ele (o doleiro) cita recursos que eram dados a parlamentares líderes da bancada (que depois repassavam a 'mesada' a outros deputados) quando eu nem estava lá", conta.

O deputado se licenciou do diretório estadual do partido para se defender, porque não gostaria de prejudicar o PP gaúcho. Goergen também abriu seus sigilos bancário e telefônico e se colocou à disposição da CPI da Petrobrás para esclarecimentos.

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Quando perguntado sobre a conduta dos colegas, Goergen disse que "não pode falar pelos outros" e limitou-se a afirmar que a bancada gaúcha do PP é "extremamente desunida". Sobre o PP nacional, Goergen não poupou críticas. Disse que o envolvimento do partido com esquemas de corrupção é conhecido desde o processo do mensalão.

Segundo ele, a legenda utiliza "métodos diferentes" há bastante tempo. "Eu cobrava do meu partido que fizesse política, e a gente não tinha mais a condição de fazer (política)", falou ao explicar que chegou a pensar em deixar a legenda.

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