PP mantém ‘técnico’ em ministério de Dilma

Fustigado pela Lava Jato, partido aceita pasta mais ‘pobre’ e indica nome sem carreira eleitoral; presidirá também o Banco do Nordeste

Por Debora Bergamasco e Fabio Brandt
Atualização:

BRASÍLIA - Em meio a suspeitas de corrupção envolvendo quadros do partido em contratos da Petrobrás, o Partido Progressista (PP) acertou nesta quarta-feira, 24, com a presidente Dilma Rousseff a indicação do hoje ministro das Cidades, Gilberto Occhi, considerado um quadro “técnico” da legenda, para a pasta da Integração Nacional. O PP comandava a pasta anterior desde 2005.

A troca é considerada um “rebaixamento”, por causa do volume de dinheiro gerido em cada pasta. Como compensação, Dilma ofereceu ao PP a presidência do Banco do Nordeste. A proposta foi aceita, mas ainda sem nome definido para assumir o posto.

Gilberto Occhi (PP) deixa o ministério das Cidades e vai para pasta da Integração Nacional no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) Foto: André Dusek/Estadão

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Oficialmente, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), limitou-se a dizer que o partido está satisfeito com a nova configuração. Na prática, os progressistas ficaram sem opção. Dilma vinha tentando nas últimas semanas convencer o PP a aceitar a troca de Cidades por Integração, mas até a manhã desta terça, 23, os líderes da legenda ainda resistiam à proposta. Entretanto, horas depois, a presidente anunciou que o comando da cobiçada pasta iria para o PSD, o que os forçou a entrar em um acordo: ou aceitavam Integração, ou ficariam com uma pasta de influência ainda menor.

O Ministério das Cidades administrou em 2014 um orçamento de R$ 22,8 bilhões em investimentos e custeio. Na Integração, esse valor foi três vezes menor no mesmo período, chegando a pouco mais de R$ 7 bilhões – com previsão em 2015 de redução à quase metade, cerca de R$ 4,7 bi. É também Cidades o ministério responsável pela execução do Minha Casa Minha Vida, um dos programas mais importantes do governo.

Oficialmente, o governo anunciou 17 dos 39 ministros do segundo mandato – 13 foram confirmados na terça à noite. Na véspera, Dilma havia afirmado que gostaria de completar a equipe até segunda-feira. Entre os partidos aliados, falta confirmar o espaço do PR.

Toma lá dá cá. Integrantes do diretório gaúcho do PP, que apoiou Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial, defendem uma reavaliação da aliança. “(A troca) é uma demonstração de desapreço ao PP”, afirma o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS). “Ela se vendeu por um processo fisiologista, já está olhando lá na frente, para a fusão do PL com o PSD. Tem filho de Jader Barbalho, a turma toda. E o PP perdeu espaço. O PT acha que o PP pode ser usado do jeito que entende.”

O deputado fez referência à especulação de que Kassab estaria articulando a criação de um novo partido, chamado PL, para fundi-lo com sua atual legenda e, assim, oferecer à presidente uma grande bancada de sustentação ao governo.

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Lista. O PP é um dos partidos mais citados nas investigações da Operação Lava Jato, além de PT e PMDB. O partido tem 10 dos 28 parlamentares mencionados em acordo de delação premiada com a Justiça pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, como mostrou o Estado na semana passada. Integrantes de outros dois partidos, PSDB e PSB, também foram citados em nos 80 depoimentos do delator às autoridades da Lava Jato.

Essa lista inclui o presidente da sigla, Ciro Nogueira, e o ex-deputado e ex-ministro Mário Negromonte (BA). O doleiro Alberto Youssef também menciona repasses a políticos do PP em seus depoimentos à Lava Jato. Segundo eles, o partido recebia 1% do valor dos contratos. Os políticos citados negam as acusações dos delatores.

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