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Possivelmente a gente tenha culpa, afirma Lula sobre vaias

Ex-presidente vê 'coisa organizada' em xingamentos à presidente na abertura da Copa, mas diz que governo falhou ao não perceber insatisfação popular

Por José Roberto Castro
Atualização:
Lula em evento na capital paulista Foto: Felipe Rau/Estadão

São Paulo - Depois de atribuir à elite os xingamentos direcionados à presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o PT pode ter culpa por não ter "cuidado com carinho" da insatisfação de parte da população. "Aqueles palavrões me cheirou a coisa organizada. O preconceito, a raiva demonstrada, possivelmente a gente tenha culpa. Eu vou repetir, a gente tenha culpa de não ter cuidado disso com carinho", afirmou Lula em entrevista ao SBT, exibida na noite desta quarta-feira, 25.

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O ex-presidente completou dizendo que o PT precisa discutir a corrupção em suas campanhas eleitorais. "O PT não pode fazer uma campanha sem discutir o tema da corrupção. Não podemos fazer como avestruz, enfiar a cabeça na areia e falar que esse tema não é nosso. Nós temos que debater".

No dia seguinte ao episódio envolvendo Dilma, Lula afirmou que a imprensa fomentou os xingamentos e considerou a reação como um resultado do "ódio de classes" criado pela "elite brasileira". Agora, as declarações desta quarta vão ao encontro da fala do ministro Gilberto Carvalho que, na semana passada defendeu que o PT comete um "erro de diagnóstico" ao alimentar a "ilusão" de que "o povo pensa que está tudo bem". O posicionamento do ministro chegou a ser criticado por lideranças petistas.

Na entrevista, Lula defendeu a presidente, disse que sabe da sua representatividade e prometeu usar toda a sua "força política" para reeleger sua sucessora. Na opinião dele, a petista é "a melhor candidata para o Brasil". "Acho que ela vai fazer um segundo mandato extraordinário, vai acontecer mais ou menos o que aconteceu comigo", disse.

Questionado sobre um possível desempenho inferior de Dilma na comparação com seu mandato, Lula ressaltou as dificuldades encontradas pela presidente. "Nós tivemos uma crise econômica mundial. Se compararmos o Brasil de 2014 com o de 2010 você fala: estávamos crescendo a 7,5% e estamos crescendo a 2%. Mas não tem que comparar com 2010, tem que comparar é com 2002. Como é que a gente (PT) pegou esse País? Porque é um processo, um projeto de construção que está em vigor neste País.", afirmou o ex-presidente.

Mensalão. Lula evitou criticar a atuação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão, mas afirmou que o PT tem de se esforçar agora para "recontar a história" do caso. "Eu não estou julgando os ministros e não vou julgá-los, mesmo que uma decisão ou outra não me agrade. (...) A pena desses companheiros já foi dada. O que esses companheiros precisam conquistar é o direito de andar de cabeça erguida nas ruas desse País."

O ex-presidente ressaltou a intensa pressão que envolveu o julgamento da Ação Penal 470 e disse que "nunca as pessoas envolvidas foram condenadas com tanta antecedência" em um processo. "A minha tese é que possivelmente esse tenha sido o processo que tenha sido julgado com a maior pressão de determinados setores dos meios de comunicação da história da humanidade".

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