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Políticos dominam cúpula dos Correios

Na estatal estopim do mensalão, cargos de chefia são ocupados por indicações partidárias

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Por Murilo Rodrigues Alves
Atualização:

BRASÍLIA - Dez anos depois de ter sido o estopim do escândalo do mensalão e imersos nos desdobramentos da Operação Lava Jato, os Correios enfrentam atualmente uma crise marcada pela ingerência política na cúpula da estatal. Os maiores salários da empresa são pagos para pessoas sem nenhuma experiência em logística que ocupam os cargos por indicação de partidos.

Essa prática é foco da Lei de Responsabilidade das Estatais, sancionada pelo presidente em exercício, Michel Temer. A lei restringe a ocupação de diretorias e conselhos de administração de estatais por políticos e sindicalistas. Ex-dirigentes partidários, por exemplo, só poderão ser nomeados se estiverem afastados da estrutura do partido ou campanhas eleitorais por um período mínimo de três anos.

Prédio dos Correios, empresa acumula prejuízos Foto: André Dusek/Estadão

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Esse critério impediria, por exemplo, a nomeação do atual presidente dos Correios, Guilherme Campos, que assumiu antes da sanção da lei. Ele presidia o PSD, de Gilberto Kassab, que se licenciou do comando do partido ao assumir o Ministério das Cidades, no governo da presidente Dilma Rousseff.

Campos ganha por mês R$ 46,7 mil, o maior salário da companhia. A remuneração mensal de cada um dos vices é de R$ 40,6 mil. Esses cargos ainda são ocupados, em sua maioria, por indicados do PDT, partido do ex-presidente dos Correios Giovanni Queiroz, médico e fazendeiro. Ele entrou no lugar do petista Wagner Pinheiro, que comandou a estatal de de 2011 a 2015.

Na atual direção, remanescente das escolhas de Queiroz, dois advogados, também indicados pelo PDT, comandam as áreas de encomendas e negócio postal. Um dentista, indicado pelo PT, era responsável pela área de tecnologia até pouco tempo. O vice-presidente de gestão de pessoas, do PDT, já foi autuado por irregularidades trabalhistas em sua propriedade rural em Minas Gerais, antes de assumir cargo de superintendente do Ministério do Trabalho.

Finanças. Mesmo com o monopólio da entrega de cartas pessoais e comerciais, cartões-postais e malotes, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) fechou no vermelho nos três últimos anos, sendo que em 2015 o prejuízo recorde foi de R$ 2,1 bilhões. A estatal ainda opera no vermelho – R$ 900 milhões nos cinco primeiros meses de 2016 – e precisará de um empréstimo do Banco do Brasil para pagar salários e fornecedores. Segundo Guilherme Campos, a empresa precisa de uma capitalização de R$ 6 bilhões do Tesouro Nacional.

A diretoria executiva tem direito a 16 assessores especiais que recebem, cada um, R$ 23 mil. Esses cargos foram considerados inconstitucionais pela Justiça do Trabalho. Os Correios firmaram um Termo de Conciliação Judicial (TCJ) com o Ministério Público do Trabalho da 10ª Região para acabar com essas funções até fevereiro de 2018. Mesmo assim, o atual presidente disse que batalhará para manter esses cargos. O custo estimado com esses assessores especiais é de R$ 500 milhões por ano.

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O Estado teve acesso ao currículo de uma das indicadas pelo PDT a esse cargo. Ela tem como única experiência profissional o trabalho de mais de 30 anos como assessora de parlamentares na Câmara.

Os Correios responderam, em nota, que não há aparelhamento político-partidário na estatal. Segundo a empresa, o atual estatuto exige “reputação ilibada” e formação em nível superior para a nomeação de membros da diretoria da empresa, critérios que são atendidos pela atual cúpula. A estatal afirmou que passou a adotar ferramentas de gestão que aumentaram a transparência e o controle.