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Partidos se organizam para capitalizar redes em 2014

Por ANA FERNANDES
Atualização:

Com 83 milhões de brasileiros acessando a internet, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o estrondoso impacto das redes sociais nas manifestações populares de junho e julho no ano passado, 2014 é o ano que consolidará nas eleições brasileiras a importância do marketing político digital. "A presidente Dilma e os outros candidatos que concorrem à Presidência - o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB) - já começaram a se organizar. Há uma necessidade de se comunicar com essa juventude", avalia o sociólogo e consultor de marketing político, Mauro de Lima.Na avaliação do PSDB, que recentemente lançou o portal www.mineirobrasileiroaecio.com.br, projetado para ser a plataforma de convergência das mídias digitais da campanha do senador mineiro, há um contingente de cerca de 30 a 40 milhões de brasileiros nas redes sociais que não estão vinculados ou não gostam de política. Xico Graziano, responsável pela área de internet da campanha tucana nessas eleições, diz que o desafio é transformar a estratégia digital em votos, inserindo no mundo político essas pessoas que reivindicam mudanças e transformações no País. "As pessoas querem participar do destino do Brasil e não conseguem, o desafio é atingir esses jovens insatisfeitos que não se dispõem a participar do projeto político."E as redes sociais são a aposta dos partidos para o diálogo com esses eleitores. Um dos casos bem sucedidos nesse campo, lembrados na pré-campanha deste ano até pelos opositores, é o da ex-senadora Marina Silva na eleição presidencial de 2010. Naquele pleito, com pouco mais de um minuto no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, Marina obteve cerca de 20 milhões de votos. O então o coordenador de Mídia Digital da campanha de Marina, Caio Túlio Costa, reconheceu que a internet teve papel decisivo na performance da candidata e representou o maior diferencial naquela campanha presidencial, pois foi uma ferramenta imprescindível na disseminação de suas ideias, com papel estratégico na composição do volume expressivo de votos que a ex-senadora teve no primeiro turno.O PT é um dos partidos que investem firme nessa área e, na semana passada, anunciou um evento dedicado a treinar a militância do partido, sem estar oficialmente relacionado às eleições. O próprio presidente estadual da sigla, Emídio de Souza admitiu, contudo, que as atividades de oficina serão muito úteis como modelo para as campanhas e quaisquer atividades futuras do PT. Inspirado na Campus Party, o Camping Digital ocorrerá no meio do feriado de Páscoa, de 18 a 20 de abril, em São José dos Campos, no interior paulista. Terá oficinas sobre tecnologia, inovação e redes sociais. Gratuito e aberto, o evento foi idealizado para atrair o maior número possível de partidários e simpatizantes do PT, que vão acampar ao longo dos três dias.GatilhoAntes canais de mero apoio para as estratégias de comunicação dos partidos, redes como Facebook, Twitter e blogs passam a contar nesta campanha com iniciativas próprias, envolvendo principalmente futuros candidatos a disputas majoritárias e configurando a tendência. Para Mauro de Lima, as manifestações de rua de 2013 foram um gatilho importante, bem como os chamados "rolezinhos" . Referências que também foram apontadas pelo cientista político e professor do Insper, Humberto Dantas. "É uma tendência, inclusive porque o Brasil parou via internet em 2013 e os políticos querem saber como pensam essas pessoas (que se manifestaram nas ruas)", disse Dantas.O presidenciável Eduardo Campos tem usado o microblogging do Twitter para dar entrevistas abertas aos internautas. Com a hashtag #EduardoResponde, o pessebista falou, no dia 7 de fevereiro, sobre propostas para saúde, política de incentivo à indústria e combate à corrupção, entre outros temas. E apesar de ter a ex-senadora Marina Silva ao seu lado neste pleito - ela deve ser vice em sua chapa majoritária - um dos principais colaboradores da ex-senadora na área da internet, Maurício Bruzadin, foi escalado para trabalhar com os tucanos nessas eleições.DilmaA própria presidente Dilma Rousseff já tinha usado recurso semelhante ao de Campos no ano passado, porém de forma mais reservada. Dilma cedeu a entrevista via Twitter somente à personagem "Dilma Bolada", paródia criada por Jeferson Monteiro e que ganhou fama com posições simpáticas ao governo da presidente. Monteiro e Dilma tuitaram lado a lado, por cerca de uma hora no Palácio do Planalto, no dia 27 de setembro. À época, a entrevista trouxe críticas da presidente à reportagem da revista "The Economist" que atacou a economia brasileira. Falou ainda da espionagem norte-americana e de programas do governo, como o Mais Médicos. A ação marcou a volta de Dilma ao Twitter, já que sua conta estava inativa desde 2010.Apesar de toda essa movimentação, os especialistas ressaltam que é importante ter consciência de que a estratégia digital na campanha brasileira é ainda algo muito incipiente no Brasil, pois as redes sociais são ainda um meio novo na política mundial. "É um território de incertezas e precisamos lembrar que importamos a ideia (dos EUA), mas não importamos os eleitores", disse Humberto Dantas. Mauro de Lima também ressalva que o movimento de estratégias elaboradas para as redes ainda é fraco no País. "Quando falamos em estratégia de comunicação política para redes sociais, candidatos no Brasil ainda estão engatinhando, ainda está muito desorganizado". (Colaborou Elizabeth Lopes)

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