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Para Wagner, delação de Delcídio tem 'muita poeira e pouca materialidade'

Ministro compara acusações a episódio da Escola Base e critica vazamento de colaborações da Lava Jato: 'é um absurdo completo'

Por Carla Araujo
Atualização:

Brasília – O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou na tarde desta quinta-feira, 3, que a delação do ex-líder do governo Delcídio Amaral tem "muita poeira e pouca materialidade" e chegou a comparar o caso ao da Escola Base, episódio nos anos 90 em que os donos de uma escola infantil de São Paulo foram injustamente envolvidos em uma investigação e em reportagens sobre abuso contra crianças.

"Esse fato é intolerável em uma República e num Estado democrático de direito. Se faz um linchamento público, seja de quem for, para depois alguém dizer: 'É, não valeu, não vale nada'”, afirmou Wagner. “Tocaram fogo na escola, tocaram fogo na família, tocaram fogo nas pessoas, para dois anos depois dizerem: “Ih, não é nada disso”. Então não dá, gente. Eu acho que isso aqui é um absurdo completo”, afirmou.

Jaques Wagner, ministro-chefe da Casa Civil Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Segundo o ministro, a presidente Dilma Rousseff está “muito indignada” com o vazamento da delação de Delcídio e com o conteúdo do acordo, revelado pela revista Isto É. “(A presidente) está com a mesma indignação que eu, talvez até mais que eu, porque envolve diretamente o nome dela”, disse Wagner. “Ela está preocupada porque eu acho que é uma coisa totalmente fora de qualquer padrão. Uma delação que eu não sei se foi, pelo que eu sei, não foi homologada, que envolve ministros e principalmente a figura da presidência da República. Aí está totalmente de cabeça para baixo.”

O ministro, que esteve reunido com a presidente e com o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para definir uma estratégia de reação do governo, também levantou suspeitas sobre a veracidade das informações de Delcídio, mas preferiu não “adjetivar” se as razões de sua delação seriam uma espécie de vingança. Wagner disse ainda que a delação “tem muita inconsistência” e que o senador “é o delator, ele é a testemunha, ele é tudo”. “Na minha opinião, tem muito pouca materialidade”, disse.

Após a divulgação da delação de Delcídio, o governo tem tentado desqualificar as falas de Delcídio, alegando que o senador tem mentido. Desde que deixou a prisão, o senador vinha afirmando que não faria acordo de delação premiada, pois iria “reescrever” sua história “sem revanchismo”.

Questionado se Cardozo poderia ter conhecimento da delação e por isso ter deixado o cargo, Wagner rebateu dizendo que “vocês sempre pressupõem que a gente conhece de tudo”. “O que mudaria a gente tirar ou deixar o José Eduardo Cardozo, até porque ele foi pra AGU, ele continua ministro”, questionou.

Wagner disse que a delação que estava sob sigilo da Justiça não poderia ter sido vazada e que “estão receptando informações”, mas disse que não caberá ao Ministério da Justiça investigar os vazamentos.“No caso não tem o que o Ministério da Justiça apurar porque só teve a delação”, afirmou. “Se couber a alguém é a própria Procuradoria-Geral da República”, completou, ressaltando que o governo mantém “relações harmônicas e respeitosas com os outros poderes”.

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Delação. De acordo com a revista IstoÉ, Delcídio disse em delação premiada que Dilma tentou atuar ao menos três vezes para interferir na Operação Lava Jato por meio do Judiciário. "É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação", afirmou Delcídio na delação, segundo a revista. Cardozo deixou esta semana o ministério alegando sofrer pressões do PT.

Na delação, Delcídio teria citado também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e detalhado os bastidores da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobrás. As primeiras revelações do ex-líder do governo fazem parte de um documento preliminar da colaboração. Nessa fase, o delator indica temas e nomes que pretende citar em seus futuros depoimentos após a homologação do acordo. Delcídio foi preso no dia 25 de novembro do ano passado acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e solto no dia 19 de fevereiro.

O senador foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo pela tentativa de atrapalhar investigações. Em conversas gravadas pelo filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o senador aparece negociando o silêncio do ex-diretor da estatal. Nas gravações, Delcídio sugere uma rota de fuga e dinheiro à família de Cerveró, para não ser mencionado em eventual acordo de delação premiada. Na delação, de acordo com a revista, o senador teria negociado com Cerveró a mando de Lula - o instituto nega.