Para Teixeira, é preciso tributar ‘o andar de cima'

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Por Erich Decat
Atualização:
Paulo Teixeira (PT-SP) Foto: Dida Sampaio/Estadão

Diante da queda de popularidade do governo Dilma e da intensificação de movimentos anti-PT, lideranças da segunda maior corrente do PT, a Mensagem, vão apresentar no Congresso Nacional da legenda resolução cujo objetivo será o de mudar toda a direção do partido. O encontro está previsto para ocorrer entre os dias 13 e 15 de junho. Representante da Mensagem na atual direção nacional do PT, o deputado federal Paulo Teixeira (SP) acredita que no Congresso o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não será alvo de ataques diretos, mas o partido irá defender um posicionamento diferente do que tem sido tomado pela equipe econômica do governo.

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Estado - Setores do PT têm criticado a condução do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A corrente vai levar essa questão para o Congresso da legenda?

Paulo Teixeira - Na minha opinião o Congresso não deve discutir a condução de um ministro do governo, quem conduz o governo é a presidenta Dilma. Mas achamos que é necessário explorar novas estratégias na área econômica com uma preocupação em relação ao crescimento e geração de emprego. E para isso achamos que três medidas são fundamentais. A primeira delas é retirar do superavit os investimentos públicos. A segunda não permitir uma política com elevação de juros. E por fim, defendemos um mecanismo de tributação voltado para o andar de cima, que pode ser a criação de imposto de grande fortuna e grandes heranças.

Estado - Qual avaliação o senhor faz da declaração da presidente Dilma de que o Levy não pode ser tratado como "judas" no Congresso?

Quando ela fala que não pode ser o judas certamente ela está dizendo que a politica econômica é do governo. Não pode querer estabelecer uma polarização com ele. Mas o Congresso do partido tem o dever de oferecer a ela novas estratégias para o crescimento econômico para proteção de emprego e defesa dos salários. Não nos interessa polarizar o debate no nome de um ministro dela. Mas queremos discutir a ampliação das estratégias na politica econômica. 

Estado - Mas durante a votação do ajuste fiscal no Congresso a postura do PT foi de fortes críticas.

Fomos solidários com o governo. Sentimos que o governo está retomando a iniciativa. É uma diferença dos últimos meses. Por exemplo, quando a presidente se posiciona contrária à votação da terceirização. Quando ela se posiciona contrária à diminuição da maioridade penal, quando ela faz observações em relação ao financiamento empresarial, você sente que é um governo que vai mostrando a sua cara. Você vai sentindo, diferentemente dos primeiros meses, que é um governo que vai retomando a iniciativa. Isso vai ao encontro do que partido quer. 

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Estado - A corrente é a favor de uma troca da cúpula do PT?

Nós temos uma confluência de dificuldades e problemas. Não foram só acertos, tivemos equívocos. E eu verifico que nós tivemos três grandes equívocos. O primeiro foi não ter conseguido fazer uma reforma política. Segundo é a financeirização das eleições que acabou afetando o nosso partido. Terceiro, o processo de eleição direta também contribui para um esvaziamento do debate político. Esses são os equívocos. E temos também dificuldades. Nós carregamos o peso de 13 anos de governo. Além disso, ficamos marcados por equívocos principalmente em 2005 [processo do Mensalão] e mais recententemente o PT está num centro de uma crise [desvios na Petrobras]... Também acho que a nossa politica de alianças foi correta ao fazer uma aliança ao centro, mas errou quando se distanciou dos demais partidos de esquerda. Acho que o PT hoje é uma faca que perdeu o seu corte, precisa afiá-la novamente. E para isso tem que ter capacidade de propor um novo programa.

Estado - Isso passa pela mudança na direção?

Há um esgotamento do aspecto organizativo do PT. Dificuldades de produção politica, dificuldades na relação com os movimentos sociais, dificuldades com a perda de poder da sua militância. Estamos defendendo que o PT faça um novo congresso para ser convocado neste ano com poderes constituintes para que a gente possa revisitar o nosso modelo organizativo e pactuar uma nova direção para o novo tempo... Isso vai ser apresentado formalmente no congresso deste mês. 

Estado O protagonismo do PMDB neste primeiro semestre incomoda?

Acho que o inicio desse processo foi muito barulhento. E tiveram alguns resultados como a aprovação da PEC da Bengala. Mas dai pra frente acho que as matérias começaram a perder força. Não há unidade no PMDB em relação a essa agenda conservadora. Não houve unidade no PMDB em relação ao distritão, não há unidade em relação a terceirização e em relação a diminuição da maioridade penal. Então, essa agenda está perdendo força. E eu creio que agora volta o velho equilíbrio na Câmara.

Estado - O PMDB tem sido mais aliado ou opositor?

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Essa agenda conservadora do primeiro semestre eu localizo na figura do presidente da Câmara e não do PMDB. Nós tivemos uma grande divergência com a agenda do presidente da Câmara, que na nossa leitura não é uma agenda equilibrada, é uma agenda muito à direita. Mas ele [Eduardo Cunha] termina o final do primeiro semestre sem grande força e com setores do PMDB sem acompanhá-lo.

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