Para Marina, maioria dos partidos faz 'negócios' em vez de política

Em entrevista à GloboNews, a ex-ministra, derrotada nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, defendeu candidaturas avulsas para concorrer com as legendas e desconversou sobre estar na disputa em 2018

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Por Fabio Grellet
Atualização:

RIO - Ex-ministra, ex-senadora, candidata derrotada em duas eleições presidenciais (2010 e 2014) e provável concorrente ao cargo na sucessão de 2018, Marina Silva (Rede) afirmou que “os partidos não estão mais fazendo política, a maioria deles está fazendo negócios”. Ela foi entrevistada pelo jornalista Roberto D’Ávila, em programa exibido na noite desta quarta-feira, 26, pelo canal por assinatura GloboNews.

A ex-ministra Marina Silva (Rede) Foto: José Patrício/Estadão

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A ex-ministra do Meio Ambiente defendeu candidaturas avulsas para concorrer com os partidos. “Os partidos não estão mais fazendo política, a maioria dele está fazendo negócios. É preciso criar uma concorrência idônea para os partidos. Vários países têm candidaturas independentes. Não é a pessoa, é uma lista endossada por um percentual de cidadãos, uma plataforma que precisa ser registrada na Justiça Eleitoral, e com isso você conseguiria recrutar pessoas da sociedade. Esse monopólio fez muito mal à política, e agora os partidos estão se tornando autarquias, com o megafundo partidário que estão querendo e com toda a concentração de poder.”

Marina afirmou que a política está ampliando os problemas nacionais: “Eu tenho dito que a política há muito deixou de ajudar a resolver os problemas e passou a criar problemas. O Brasil era a oitava economia do mundo e despencou em função de decisões políticas equivocadas. Nós eramos um país de pleno emprego e agora temos 14 milhões de desempregados por decisões políticas equivocadas”. Segundo ela, o Brasil está “vivendo num poço sem fundo, o que é pior do que o fundo do poço”. “Nesse momento não vai ter um partido ou uma figura salvadora da pátria”, disse.

Para Marina, “a reforma política que está sendo feita piora a situação. É fundamental que a gente pense a reforma política não para dar mais poderes aos partidos, como estão querendo dar, não para transformar a montanha de dinheiro da corrupção em fundo partidário mega bilionário para institucionalizar o abuso do poder econômico”.

A líder da Rede Sustentabilidade afirmou que um dos primeiros passos para o Brasil se recuperar “é sair desse presidencialismo de coalizão que virou presidencialismo de desmoralização”. “As pessoas compõem o governo distribuindo pedaços do Estado, fazem a maioria no Congresso fazendo aliciamento de votos, como está fazendo agora o presidente (Michel) Temer, para ter maioria para se manter no poder juntamente com seus ministros investigados escondidos atrás do foro privilegiado, mas através de aliciamento e distribuição de emendas.”

Na entrevista, Marina também criticou a decisão do governo federal de fazer cortes no orçamento. “Como a Polícia Federal sofre os cortes que está sofrendo, quando uma das coisas mais importantes que está acontecendo é o trabalho da Operação Lava Jato? Às vezes chega a se pensar que o que está acontecendo é uma sabotagem. Tem agora uma medida do governo que aumenta impostos de combustíveis e ao mesmo tempo faz um verdadeiro festival de distribuição de emendas gastando dinheiro do contribuinte para aliciar votos no Congresso. Tira com uma mão para comprar votos de parlamentares na Comissão de Constituição e Justiça e faz com que o contribuinte tenha que pagar o preço. Infelizmente no Brasil aqueles que praticam o crime são premiados, e aqueles que cumprem são prejudicados. Agora voltou tudo de novo. Quem invadiu terra ilegalmente na Amazônia está recebendo as dádivas do governo para poder votar a favor dele”, afirmou.

Quando questionada sobre uma possível candidatura à Presidência da República em 2018, Marina desconversou. “Ainda estou fazendo meu discernimento, e isso é a verdade, senão lhe daria um furo”, disse. Sobre a afirmação de estar participando menos do que se esperava do debate político brasileiro, Marina respondeu: “Estou participando assiduamente dos debates, o problema é que as pessoas acham que só fala em debates (aqueles) que estão na polarização. Como eu desde o início sou a favor da Lava Jato, tem gente que diz que isso não é uma fala. Como eu sempre fui contra o foro privilegiado, tem gente que acha que isso não é uma fala. Como eu desde 2015 estou defendendo a cassação de chapa Dilma-Temer e uma nova eleição, e eles querem ficar no poder, acham que isso não é uma fala”.

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Marina também comentou a polarização na política. “É preciso que a gente crie um espaço, uma zona de amortecimento, para essa polarização que levou o Brasil ao desastre, para que os partidos tenham tempo de se reinventar, para que eles possam se reconectar com seu pacto fundador”, disse.

A ex-ministra afirmou ainda que o Brasil precisa parar de “fulanizar as conquistas”. “O Plano Real começou com o PSDB, mas era para ter sido institucionalizado independente de quem fosse o governo. As políticas sociais que iniciaram no governo do PT eram para ter sido institucionalizadas, não fulanizadas. Não posso ter um governo onde as coisas boas só funcionam com um partido ou com um líder”.

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