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Para fontes do Planalto, decisão contra Cunha é tardia, tenta limpar 'golpe' e não muda cenário

Nos corredores, há quem diga que acontece um 'jogo combinado'; governistas acham que Temer pode sair enfraquecido

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Por Carla Araujo e Tania Monteiro
Atualização:

BRASÍLIA - O clima no Palácio do Planalto não mudou muito com a notícia de que o ministro Teori Zavascki do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu liminarmente acatar um pedido do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, de afastar Eduardo Cunha do mandato de deputado federal e, consequentemente, do comando da Câmara. Interlocutores da presidente Dilma Rousseff classificaram a decisão como "tardia" e dizem que dificilmente ela mudará o cenário "já dado" de aprovação do impeachment no Senado.

O clima logo pela manhã desta quinta, 5, foi de surpresa, já que era aguardada apenas para esta tarde uma decisão do Plenário do STF em outra ação que pedia o afastamento de Cunha. Para algumas fontes do Planalto, a decisão de Teori tenta "limpar o golpe", já que coube ao então presidente da Câmara "limpar a cena do crime" na condução do processo de impeachment. "Com o Cunha saindo, acaba também o carimbo do golpe", afirmou uma fonte.

Deputado Eduardo Cunha observa o ministro do STFTeori Zavaski nasessão de abertura do Ano Judiciárioem 2/2/2015. Um ano e 3 meses depois,Teori afasta Cunha do mandato Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Há quem fale nos corredores inclusive "de jogo combinado". Interlocutores ressaltam que o Supremo vinha sendo omisso na avaliação do processo de Cunha. "Parece que estavam aguardando ele conduzir o processo. E, apesar de os deputados terem votado em sua maioria pelo impeachment, é obvio que sem o Cunha o processo não teria tido essa força", afirmou uma fonte. "Cunha foi fundamental para que o impeachment tenha sido aprovado na Câmara e isso não pode ser esquecido", disse outro interlocutor.

Além disso, a postura do STF, avaliam as fontes, vai deixar para a sociedade a impressão de que "a faxina está sendo feita". "Tirando o Cunha, agora eles querem passar a impressão de que estão 'caçando' os corruptos". Uma fonte lembrou, inclusive, que essa foi a demanda explicitada por alguns deputados no dia do voto do impeachment.

A análise, entretanto, é que dificilmente o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, vai ter êxito em seus questionamentos de tentar anular o processo de impeachment conduzido por Cunha. "Ele está fazendo seu papel", disse uma fonte. "Difícil ter esperança", completou. "O governo não se ilude com a decisão de hoje, até porque os motivos que levaram ao afastamento já eram conhecidos faz tempo", disse um assessor palaciano.

Os poucos que ainda acreditam na reversão do quadro dizem que há uma pequena chance de o Supremo ver a ilegitimidade do processo de impeachment e torcem para o STF entender "que as decisões de Cunha estão contaminadas".

Temer. O efeito da decisão do STF divide as fontes do Planalto em relação ao vice-presidente Michel Temer. A maior parte acredita que Temer fica enfraquecido e pode inclusive "ser ameaçado por Cunha", que ainda detém muita força. "Ele não vai cair sozinho", afirmou um interlocutor.

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Além disso, muitos destacam que a notícia deve ter impacto na imprensa internacional. "Muitos veículos vinham noticiando que o impeachment de Dilma estava sendo conduzido por um corrupto. Precisamos aguardar a repercussão que terá e certamente os impactos que virão para o vice quando ele assumir", disse um interlocutor.

A assessoria do vice-presidente disse que ele não comentaria a decisão do STF.

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