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Oximoro peemedebista

Por José Roberto de Toledo
Atualização:

Os futuros ministros de Michel Temer estão que não se aguentam. Esperar pelo 12 de maio lhes é insuportável. Sofrem de falação precoce. Nas recorrentes entrevistas, abandonaram o futuro do pretérito para a assertividade do futuro do presente: “farei”, “melhorarei”, “institucionalizarei”. É até compreensível, diante do ex-Ministério em atividade de Dilma Rousseff. Mas não precisam exagerar. Vender-se como novidade é um pouco demais. Tome-se o recorrente Moreira Franco, de 71 anos. Ex-governador, ex-prefeito, ex-deputado e ex-ministro, faz proselitismo da futura gestão, no Twitter, com o vídeo “O Novo Está Chegando”. É inevitável lembrar do mote “O inverno está chegando”, tornado famoso pela épica série da TV Game of Thrones. No seriado, a frase indica a chegada iminente de um exército de mortos-vivos - para bagunçar ainda mais um reino envenenado por traições. Mesmo que as coincidências assaltem a mente, a comparação é injusta. A turma do PMDB nunca morreu. Ao contrário. Está encastelada na Esplanada desde o fim da ditadura militar. Se a era tucana levou oito anos, e a petista deve acabar com 13 incompletos, a peemedebista já vai para o 31.º aniversário: cinco anos de Sarney, dois anos de Itamar, oito anos de Fernando Henrique, oito de Lula, além de cinco anos e meio de Dilma. E o governo Collor? Exilado do centro do poder Executivo, o partido se refugiou com sucesso no comando do Congresso. E, como agora, usou com maestria o Legislativo para derrubar o então presidente e colocar um seu correligionário no lugar. Como Tancredo, Collor e Dilma descobriram tardiamente, não dá sorte ter um peemedebista como segundo na sua linha sucessória. Talvez Temer tenha melhor destino - embora isso só seja provável se o Supremo livrá-lo de Eduardo Cunha como sucessor. Com tal histórico, dizer que o novo está chegando quando se refere a mais um governo peemedebista é um oximoro, a prototípica volta dos que não foram. Moreira Franco é exemplo. Diretor da Caixa sob Lula, foi duas vezes ministro de Dilma: da Secretaria de Assuntos Estratégicos e da Avião Civil. Demitido no segundo mandato, passou a visitar com frequência o gabinete de Temer até impregná-lo com as ideias que agora tomam posse. Se o Gato Angorá ronronou na orelha esquerda do quase-ex-vice, Eliseu Padilha, de 70 anos, é o titular da direita. Ninguém visitou oficialmente o gabinete de Temer em 2015 mais do que ele: 25 vezes. Ex-prefeito e ex-deputado, foi ministro dos Transportes de FHC (com direito a um secretário executivo tucano, só por segurança) e ministro da Aviação Civil de Dilma. Outro que vai voltar sem nunca ter ido de verdade é Henrique Eduardo Alves, de 67. Filho de um ministro de Sarney, é vice-recordista de mandatos na Câmara, 11 vezes deputado. Foi ministro do Turismo de Dilma e o primeiro peemedebista a pedir para sair. Com o gesto, ganhou o direito de ser dos primeiros a voltar à Esplanada sob Temer. Mas ninguém bate a resiliência no poder do comparativamente jovem Romero Jucá, de 61 anos. Num governo com viés septuagenário, compensa em experiência o que lhe falta de calendário. Foi o último governador biônico de Roraima, indicado por Sarney. Secretário de Habitação de Itamar, emplacou como líder perpétuo do governo, fosse qual fosse, no Senado. Liderou os governistas de FHC, Lula e Dilma. Teve passagem relâmpago pelo Ministério da Previdência de Lula, de onde saiu por imprevidência. Deve voltar agora para um superministério do Planejamento - se Temer confirmar, e o STF e a Operação Zelotes permitirem. O único que foi sem nunca ter sido é o advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira. Levou menos de 24 horas e uma declaração para ele virar ex-futuro ministro da Justiça. Na entrevista, repetiu o que dissera antes sobre o que considera excessos de Lava Jato. Nem isso era novidade.

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