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Os homens-bomba da República

Eles guardam segredos que, uma vez revelados, podem elevar a crise a um patamar jamais imaginado; dos 5, 4 caminham para fazer delação

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Por Alberto Bombig
Atualização:

Os segredos que eles guardam, se revelados, podem elevar a crise política do País a um patamar jamais imaginado quando a Operação Lava Jato teve início, há pouco mais de três anos. Do silêncio de Rodrigo Rocha Loures, Antonio Palocci, Eduardo Cunha, Renato Duque e Lúcio Funaro depende hoje o futuro político do presidente Michel Temer e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder até agora nas pesquisas de intenção de voto para o Planalto em 2018. Desses homens-bomba, Loures foi ontem o último a perder a liberdade, após o ministro Edson Fachin, do Supremo, atender ao pedido de prisão preventiva feito pelo procurador-geral Rodrigo Janot.

Eventuais acusações que eles possam fazer a Temer e a Lula causarão estragos políticos imediatos e terão graves implicações jurídicas. Conforme apurou o Estado, dos cinco, apenas Cunha (PMDB), ex-presidente da Câmara, ainda reluta em buscar um acordo de delação premiada com as autoridades. Loures vem sendo pressionado pela família a relatar sua participação no episódio da mala com R$ 500 mil entregue a ele pela JBS. Palocci e Funaro estão mais avançados nas negociações de uma colaboração. Palocci pode corroborar as informações contidas nas delações de executivos da Odebrecht e da JBS contra Lula e abrir novas frentes de investigação sobre o mundo empresarial. Funaro promete revelar detalhes sobre a atuação do PMDB na Caixa e a arrecadação de campanhas.

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Mantega. Além deles, segundo a mais recente edição da revista Época, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega também buscou procuradores da Operação Lava Jato para negociar uma colaboração. 

O petista estaria disposto a revelar o que sabe sobre o sistema financeiro e as relações da gestão da presidente cassada Dilma Rousseff com a arrecadação de propinas para o PT em troca de vantagens na Petrobrás e no BNDES.

RODRIGO ROCHA LOURES

Rodrigo Rocha Loures. Ex-deputado (PMDB-PR) e ex-assessor do presidente Michel Temer Foto: Dida Sampaio

Qual a situação: É alvo, junto com Temer, de inquérito que apura crimes de corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa. A Procuradoria-Geral da República pediu a prisão dele, que foi acatada pelo STF, por considerá-la “imprescindível” para a garantia da ordem pública.

O que os inquéritos dizem sobre eles: Loures foi gravado pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, em negociação de pagamento de propina. Depois, foi alvo de ações controladas pela Procuradoria. Em um dos vídeos, Loures aparece “correndo” após supostamente ter recebido mala com R$ 500 mil.

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Quem eles podem comprometer e o que podem revelar: Pode elucidar o mistério da mala com R$ 500 mil entregue a ele pela JBS. Se envolver o nome de Temer no episódio, Loures fulminará as expectativas do presidente de permanecer no cargo. Ele também pode revelar segredos sobre o encontro entre Joesley e Temer.

LÚCIO FUNARO

Lúcio Funaro.Corretor de valores, apontado como operador financeiro de Eduardo Cunha Foto: André Dusek/Estadão

Qual a situação: É réu com Cunha por esquema de desvios na Caixa. É ainda alvo de inquéritos no STF, entre eles o “quadrilhão”, que apura o envolvimento de políticos peemedebistas no esquema de corrupção na Petrobrás com articulação na Câmara. Está preso desde junho do ano passado.

O que os inquéritos dizem sobre eles: É acusado de chefiar esquema de cobrança de propina em troca de empréstimos do Fundo de Investimentos do FGTS. Além disso, investigações o apontam como “responsável por desempenhar papel relevante na engrenagem criminosa” investigada pela Lava Jato.

Quem eles podem comprometer e o que podem revelar: Pode apresentar riscos diretos para Temer e Moreira Franco e agravar a situação de Cunha. Em negociações com a Lava Jato, ele indicou que pode, entre outras coisas, comprovar o uso de recursos ilegais em campanhas de Temer e do PMDB paulista.

EDUARDO CUNHA

Eduardo Cunha. Ex-presidente da Câmara e deputado cassado (PMDB-RJ) Foto: REUTERS/Rodolfo Buhrer

Qual a situação: Preso preventivamente desde outubro do ano passado, o peemedebista está detido em Curitiba. O deputado cassado foi condenado em uma ação penal da Lava Jato a 15 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem e evasão fraudulenta de divisas.

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O que os inquéritos dizem sobre eles: Além da sentença na Lava Jato, é réu por esquema na Caixa e foi denunciado por receber propina de empreiteiras como a Odebrecht. É investigado no “quadrilhão”, por corrupção em Furnas, favorecimento do BTG Pactual e por pressionar a Schahin quando era deputado. 

Quem eles podem comprometer e o que podem revelar: Cunha guarda consigo em Curitiba segredos de meio mundo político e empresarial das últimas duas décadas. O mais urgente, no entanto, seria ele esclarecer se recebeu dinheiro de Joesley Batista a mando de Temer para ficar calado e não fazer uma delação premiada.

ANTONIO PALOCCI 

Antonio Palocci. Ex-ministro da Fazenda (governo Lula) e da Casa Civil (governo Dilma) Foto: André Dusek/Estadão

Qual a situação: Foi preso em setembro do ano passado durante a 35ª fase da Lava Jato – o ex-ministro está detido em Curitiba. É réu por corrupção e lavagem de dinheiro relacionados à obtenção, pela Odebrecht, de contratos de afretamento de sondas com a Petrobrás.

O que os inquéritos dizem sobre eles: Atuou em favor dos interesses da Odebrecht no exercício dos cargos de deputado, ministro e integrante do Conselho de Administração da Petrobrás. Segundo investigações, a empreiteira baiana pagou, de 2008 a 2013, R$ 128 milhões ao PT, incluindo Palocci.

Quem eles podem comprometer e o que podem revelar: As delações de Palocci e de seu assessor Branislav Kontic podem arrasar Lula e o PT. Eles prometem confirmar várias das acusações feitas por executivos da Odebrecht e JBS. A dupla também deve apresentar nomes de grandes empresários e banqueiros.

RENATO DUQUE

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Renato Duque.Ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobrás (2003 a 2012) Foto: Reprodução

Qual a situação: Duque está preso desde março de 2015 em Curitiba. O ex-diretor de Serviços da Petrobrás já foi condenado em quatro ações penais relativas à Operação Lava Jato pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Somadas, as penas chegam a 57 anos, 7 meses e 10 dias de prisão.

O que os inquéritos dizem sobre eles: Recebia porcentagem da propina embutida em contratos da Diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobrás – a área era considerada “cota” do PT no esquema de corrupção e desvios na estatal. O partido, segundo investigações, captava propina por meio da área comandada por Duque.

Quem eles podem comprometer e o que podem revelar: Duque é peça-chave para a compreensão do papel do PT no esquema de corrupção e desvios na Petrobrás. Se fechar a delação premiada, pode comprometer Lula. Ele também daria detalhes do que diz ter sido um pedido do ex-presidente, em um encontro secreto, para que ele destruísse provas.