A informação é importante para virarmos a página rapidamente e prosseguir no esforço de superação da crise. Mas a decisão do presidente de permanecer no poder, sem explicar de modo adequado o que aconteceu, deixou o país imerso na incerteza.
O risco de uma nova fase de instabilidade política é gritante, haja vista as propostas de abertura de processos de impeachment que estão pipocando no Congresso Nacional.
Mesmo admitindo-se que o presidente da Câmara dos Deputados, um aliado de Temer, consiga barrar a abertura dos processos, a ausência de explicações para o envolvimento do presidente na eventual operação de “compra” de silencio do ex-deputado Eduardo Cunha abre margem para as manifestações de rua, com a volta do “fora Temer” que o presidente disse sentir falta, mas que podem levar ao paroxismo os seus índices de impopularidade.
A sangria também pode solapar a base de apoio do presidente no Congresso, afetando as condições do que, com grande zelo, ele vinha construindo para aprovar o ciclo de reformas destinadas a permitir a retomada do crescimento econômico e a criação de empregos.
Alguns ministros, do PPS e do PSDB, já estão abandonando o barco, sinalizando que não será fácil manter a fidelidade de parlamentares que enfrentarão o desafio de sua reeleição em 2018, quando terão de explicar o voto em reformas antipopulares e, mais ainda, o apoio a um presidente acusado de obstrução da Justiça.
Se verdadeiras as denúncias, o menos traumático teria sido Temer renunciar e abrir a possibilidade de sucessão nos termos da Constituição, seja pela eleição indireta no Congresso, seja pela convocação de eleições diretas gerais, objeto de uma proposta de emenda constitucional em tramitação.
A vantagem dessas alternativas seria a de abrir espaço para a pacificação do País e, principalmente, para a recuperação da política, algo visto hoje como um terreno de negócios feitos contra os interesses da comunidade. O cenário, a se manter, é um antídoto da democracia.
*PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA NA USP