Os panelaços que a senhora ajudou a tornar multitudinários a partir de 1971 influíram na queda do presidente Salvador Allende e deram início a uma ditadura de 17 anos. Algum arrependimento?
Não me arrependo de nada do que eu vivi. Acho que (o panelaço) foi um alarme que concentrou tudo o que significava o descontentamento nessa época. Campos desapropriados, escassez de pão. Era preciso fazer fila para tudo.
E a senhora mesma chegou a entrar em fila de alimentos?
Mandava minhas empregadas para a fila. Mas tive que muitas vezes fazer fila pela carne. Como por sorte tenho uma fazenda, de vez em quando me mandavam carne daqui do campo para Santiago.
A senhora chegou a ter uma boa relação com Allende antes de ele chegar à presidência?
Allende foi três vezes candidato. Na terceira, saiu. Não era partidário dele, mas sim de Jorge Alessandri (presidente de 1958 a 1964, derrotado em 1970 por Allende por 36,6% a 35,3%), que pôs em seus ministérios gente de todos os partidos. Já o senhor Allende, o que fez primeiro foi expropriar as propriedades rurais. Nisso caiu a minha mãe, caí eu, caiu a minha sogra, caímos todos.
Quanto a senhora perdeu nas desapropriações?
Tenho 600 hectares até hoje, isso foi uma herança do meu avô. Tenho uma leiteria e nunca tive problemas com os empregados. Estou contente no campo, prefiro viver no campo que em Santiago.
Quando faltou comida com Allende, foi incompetência dele ou empresários tiraram os alimentos do mercado?
Havia corporações que estavam autorizadas a receber comida e intermediários. Mas acho que íamos a passo muito firme para chegar ao que é Cuba hoje em dia.
CARMEN SAENZ TERPELLE FOI IDEALIZADORA DOS PANELAÇOS NO CHILE, EM 1971