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O país adolescente e seu comportamento (im)previsível

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Por Ruth Manus
Atualização:

O Brasil é um país de cerca de meio milênio de idade. Pode parecer muito, mas, se olharmos ao redor do mundo, percebemos rapidamente que se trata apenas de um adolescente no cenário internacional. Como todo bom adolescente, ele preocupa, incomoda, erra e parece nunca aprender. Adolescentes são presas fáceis: curiosos, vulneráveis, com hormônios efervescentes e um perene sentimento de instabilidade, que pode acionar uma bomba-relógio interna a qualquer momento. Ser um país adolescente já seria problema suficiente por si só. Mas nossa infância traumática não ajudou. Um certo Brasil morreu com a chegada de seus pais adotivos-sequestradores, porém queridos, portugueses. Foi uma infância sofrida, violenta e imposta, com a posterior chegada repentina de tantos novos pais – italianos, espanhóis, japoneses, libaneses, alemães – uma mistura aflita de tanta gente fugindo de tudo. Sim, uma infância bem problemática. Nós nos tornamos um país adolescente e confuso, que, com a força da globalização, se viu forçado a atuar subitamente como adulto. Teve de aprender a se comportar como adulto, a negociar com adultos, a se fingir de adulto. E vínhamos fingindo razoavelmente bem. Atraímos investimentos estrangeiros e até demos a impressão de uma democracia consolidada. Mas adolescentes explodem a qualquer momento. Foi assim na adolescência de quase todos os países europeus – revoluções, quedas e golpes. E nós acabamos por escolher modelos políticos, jurídicos e econômicos que não nos serviam bem, assim como o adolescente que pega roupas emprestadas dos pais no sábado à noite. Num dado momento, imaturidade, instabilidade e egoísmo eclodiriam. E eclodiram. Parece-me injusto crucificar o Brasil por sua crise nervosa. Parece-me injusto esperar dele a serenidade de um país adulto e sólido. É simplesmente incompatível com nossa breve história. Mas o pior que se pode fazer com esse jovem é desistir dele – ou deixá-lo cair nas mãos oportunistas de salvadores. É preciso ter paciência. É preciso olhar para sua história e entender os erros repetidos, os gritos silenciados, as intenções disfarçadas. O fato é que o mundo inteiro quer ver o Brasil erguido. Não só pelo nosso requebrado e simpatia, mas porque o Brasil vale muito, em muitos aspectos. Há inúmeros interesses que rondam esse adolescente, tão confuso quanto valioso. E, se nós não o conduzirmos pela mão, alguém o fará. Resta saber quem e por quais obscuros caminhos.

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