O ministério e a síndrome da rotatividade

Na equipe de Dilma, ministros duram dias, ou, no caso de Lula, meia hora

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Por Leonencio Nossa
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BRASÍLIA - A síndrome do mandato relâmpago atingiu, na Esplanada dos Ministérios, estrelas da política, técnicos experientes na burocracia e petistas turbinados num momento de falta de quadros. O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff forjou uma lista de ministros com curta duração no cargo.

O bloco é liderado por um dos símbolos da habilidade em apagar incêndios e reduzir crises. Chamado para salvar o governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi nomeado para a Casa Civil em 17 de março, mas, por decisão judicial, não conseguiu sentar na cadeira de ministro.

Lula na posse como ministro: derrubado pela Justiça Foto: André Dusek|Estadão

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Lula não teve respiro no cargo. Meia hora depois de sua posse, o juiz federal Itagiba Catta Preta Neto deu liminar suspendendo a nomeação. O ato do magistrado foi logo derrubado, mas no dia seguinte o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes aceitou pedido de partidos oposicionistas para suspender a posse. Dias antes, Mendes antecipou a decisão ao acusar o ex-presidente de buscar o cargo de ministro para garantir o foro privilegiado no processo de investigação da Lava Jato. Lula ainda espera uma decisão final do STF.

O procurador baiano Wellington César Lima, apadrinhado do ministro Jaques Wagner, assumiu o Ministério da Justiça no dia 3 de março. Menos de uma semana depois, era desligado da função pelo Planalto, que atendia determinação da Justiça proibindo representantes do Ministério Público de assumir cargos fora da instituição.

A tentativa do Planalto de formar às pressas uma coalizão para evitar a aprovação do impeachment na Câmara aumentou o número de ministros de curta passagem pelo governo. O caso mais dramático foi a nomeação do deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) na Secretaria da Aviação Civil. Menos de um mês depois de entrar para o governo, Lopes se desligou para voltar à Câmara e participar da votação do impeachment.

Antes disso, no entanto, ele passou pelo Palácio Jaburu, onde foi convencido pelo vice-presidente Michel Temer a votar pelo afastamento de Dilma. A presidente se espantou quando viu, pela TV, o deputado anunciar seu voto.

Com a saída de Mauro Lopes, a secretaria foi ocupada no último dia 29 por Carlos Eduardo Gabas. Ex-ministro da Previdência Social, Gabas recebeu da presidenteDilma Rousseff a tarefa de tirar da gaveta as concessões de aeroportos antes da votação do impeachment no plenário do Senado, marcada para o próximo dia 11.

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Outro conhecido de Dilma, o técnico de carreira da Petrobrás Marco Antonio Martins Almeida, recebeu, no último dia 21, um telefonema com a notícia de que comandaria o Ministério de Minas e Energia, pasta onde trabalha há quase 17 anos. Se Dilma sair, ele terá ficado três semanas no cargo.

O economista gaúcho Alessandro Teixeira pode permanecer pouco tempo à frente do Turismo, mas já deixou seu nome gravado na crônica política brasiliense. Há nove dias no cargo, ele conseguiu a façanha de se envolver em dois escândalos. A foto da família no gabinete ministerial foi substituída por um ensaio sensual da mulher, a modelo Milena Santos, na sala de trabalho.

Dias depois, descobriu-se que Teixeira nomeara, em novembro, uma tia da mulher para um cargo com salário de R$ 19,4 mil na Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, órgão pelo qual tinha passado.