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O ‘mãos de tesoura’ vira ‘salvador’ da política fiscal

No Tesouro, o ortodoxo Joaquim Levy costumava bater de frente com a então ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff

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Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes e Debora Bergamasco
Atualização:
Futuro ministro da Fazenda (à direita na foto) já atuou nos governos FHC e Lula Foto: Dida Sampaio/Estadão

Brasília-Chamado por poucos de “Joca”, por muitos de “trator” e por petistas de “mãos de tesoura”, o engenheiro naval e PhD em economia Joaquim Levy será anunciado nesta quinta-feira, 27, ministro da Fazenda em substituição a Guido Mantega com a missão de encarnar, agora, o papel de “salvador da pátria” da política fiscal depois das manobras contábeis que abalaram a credibilidade do País. 

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Levy desperta esperança e apreensão dentro do governo. Se por um lado a presidente aposta na obstinação e no seu conhecimento técnico para, por exemplo, ser capaz de entregar o superávit que for prometido, por outro lado a ortodoxia do economista para cumprir suas missões arrepia governistas, que temem o comprometimento dos avanços sociais da gestão petista. 

O escolhido para comandar a Fazenda no segundo mandato costumava protestar quando algum de seus assessores do Tesouro Nacional lhe comprava bilhetes na classe executiva em viagens internacionais, previsto pelo regulamento do setor público. “Com esse dinheiro, viajam dois”, reclamava. 

Quando controlou a chave do cofre do Tesouro, entre 2003 e 2006, no governo Lula, costumava bater de frente com a então ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff. Especialmente porque ele tentava intervir em questões da pasta, como por exemplo no episódio do marco regulatório de energia, que estava em elaboração pela então ministra. Casos como esse geraram brigas entre os dois e até a expulsão dele de dentro do gabinete dela. 

Mesmo assim, a hoje presidente resolveu acatar a sugestão do nome de Levy movida pela razão e não pela emoção. Ele vem sendo descrito por economistas como “o mais completo” para a função de ministro. 

FMI. Além da formação acadêmica que passa por mestrado na Fundação Getúlio Vargas e doutorado na Universidade de Chicago - com carta de recomendação escrita por seu ex-professor Arminio Fraga -, Levy conheceu a política monetária de vários países quando trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI). Adquiriu experiência com a estrutura de gastos da máquina federal durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, quando foi secretário adjunto de Política Econômica, economista-chefe do Planejamento e, já na gestão Lula, chefe do Tesouro. Estreitou relações com agências internacionais de classificação de risco quando foi da direção do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Como secretário de Fazenda do Rio, conheceu em profundidade as finanças estaduais. E foi na diretoria do Bradesco Asset Management que aprofundou sua relação com investidores do mercado financeiro. 

Quando atuou no governo federal, ele mandou contratar secretárias em três turnos diferentes. A última costumava encerrar o expediente às 2h da manhã. Muitas vezes, Levy trabalhava até o início da madrugada, voltava para sua casa, nadava alguns quilômetros e voltava ao trabalho. Ou dormia algumas horas no sofá do próprio gabinete para dali retomar mais um dia. E-mails enviados às 3h e ligações para cobrar resposta às 7h costumam ser rotina até hoje. 

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Se Dilma e Levy concordam no jeito austero e duro de cobrar os subordinados, agora resta a expectativa por parte do mercado e de governistas é se a presidente estará disposta a dar autonomia para conduzir a política econômica na qual acredita. / COLABOROU LU AIKO OTTA

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