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O 'Dilmo da Dilma', agora com mais poder

Aloizio Mercadante negocia cargos no futuro Ministério da Casa Civil, ‘administra’ caso Petrobrás e distribui broncas

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa e Tania Monteiro
Atualização:

Batizado de “primeiro-ministro” no Palácio do Planalto, o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), terá seus poderes ampliados no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Além de coordenar a equipe, o homem conhecido como “Dilmo da Dilma” vai monitorar os principais programas do governo e estabelecer metas com prazos mais apertados para a entrega de resultados.

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Na composição do novo ministério, Mercadante desempenha papel de destaque, causando a ira de dirigentes do PT. É ele que chama os mandachuvas dos partidos na Câmara e no Senado, expõe o desenho planejado por Dilma para o primeiro escalão, cobra fidelidade em votações de interesse do governo, “administra” a temperatura do escândalo da Petrobrás e distribui broncas a torto e a direito.

'Workaholic'.Aloizio Mercadante, durante anúncio de medidas para a indústria no Palácio do Planalto Foto: Dida Sampaio/Estadão

O estilo mandão de Mercadante já provocou até mesmo discussões acaloradas no Palácio do Planalto. Quando Marta Suplicy saiu do Ministério da Cultura batendo a porta, em novembro, ele teve a ideia de acelerar o pedido de demissão coletiva da equipe para deixar a presidente mais “à vontade” no seu retorno da viagem à Austrália, onde participava da reunião de Cúpula do G-20. O chefe da Casa Civil queria neutralizar o impacto das fortes críticas de Marta, sua adversária no PT, à administração de Dilma. Não contava, porém, com o protesto de Miguel Rossetto, então titular do Desenvolvimento Agrário, ao plano da demissão coletiva. Os dois bateram boca.

‘Faixa de Gaza’. Amigo de Dilma desde a época em que trabalhou com ela no governo do gaúcho Olívio Dutra (1999-2002), Rossetto foi um dos últimos a entregar a carta. Só o fez após ter certeza de que a presidente sabia da estratégia. A partir de janeiro do ano que vem na Secretaria-Geral da Presidência, Rossetto agora vai dividir com Mercadante e com o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, o quarto andar do Planalto. Há quem aposte em ruídos e ranger de dentes no corredor da articulação política, apelidado de “Faixa de Gaza” no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando o chefe da Casa Civil era José Dirceu, hoje condenado no processo do mensalão.

De saída da Secretaria-Geral da Presidência, o ministro Gilberto Carvalho é outro que já teve duros embates com Mercadante. Em meados deste ano, Carvalho achou que o colega queria queimá-lo no governo, jogando-o na campanha com o objetivo de se livrar do seu “sincericídio” no Planalto. Para salvá-lo da fritura, Lula entrou em campo e falou com Dilma.

Filtro. Sem muita paciência para jogar conversa fora e definido como “workaholic”, Mercadante é hoje quem “filtra” as indicações dos aliados para o ministério, antes de expor as demandas por cargos a Dilma. Embora seja obrigado a dividir parte da tarefa com Berzoini, o relacionamento com o petista é apenas protocolar.

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No dia a dia, é Mercadante - e não Berzoini - quem tem carta branca para dizer “não” a pedidos “esdrúxulos” de políticos. O apelido de “Dilmo da Dilma” foi criado para compará-lo à “tia”, como a presidente ficou conhecida no PT, quando ocupava a Casa Civil no governo Lula (de 2005 a 2010). Soma-se a essa alcunha o carimbo de “Mercadados” por causa de sua mania de arremessar índices, números e dados de todos os tipos na direção do interlocutor. 

Auxiliares de Dilma dizem, nos bastidores, que o projeto de ampliação dos poderes de Mercadante inclui estudos para deixar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) subordinada à Casa Civil a partir de 2015. Hoje, o órgão é vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Numa reunião com senadores e deputados do PT no dia 10, em Brasília, Lula se cansou de ouvir reclamações sobre o “ego” de Mercadante.

“Ele foi o prato de resistência da conversa”, contou um senador. “Todo mundo fica com bronca porque ele não deixa ninguém falar com a Dilma e se intromete em tudo.”

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Mercadante sabe que sua posição provoca ciúme, mas não se importa. No 2.º turno da campanha eleitoral, ele foi escalado pela presidente para rebater os ataques do então candidato do PSDB, Aécio Neves, à gestão da economia. Aplicado como nos tempos de professor da PUC, o chefe da Casa Civil montou imediatamente a pasta “Armínio Fraga”, com recortes sobre tudo o que o ex-presidente do Banco Central dizia. Mirou no homem que seria ministro da Fazenda se Aécio vencesse a disputa e passou a fustigá-lo.

No PT, o comentário é que Mercadante se prepara para ser candidato à sucessão de Dilma, em 2018. “Isso é bobagem”, disse ele ao Estado. “Lula é o candidato do coração da militância do PT e terá sempre o meu apoio.” Os ateadores do “fogo amigo” duvidam.

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