Nunca fui assassino, diz coronel Ustra à Comissão Nacional da Verdade

Convocado pelo colegiado para falar sobre crimes ocorridos durante a ditadura, o militar defendeu sua atuação no período: 'Quem tem que estar aqui é o Exército, não eu'

PUBLICIDADE

Por atualizado às 13h50
Atualização:

Texto atualizado às 17h37

PUBLICIDADE

SÃO PAULO - O coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra afirmou nesta sexta-feira, 10, que "lutou pela democracia" e negou ter cometido crimes durante o regime militar. "Nunca fui assassino", disse Ustra aos integrantes da Comissão Nacional da Verdade. Em seu depoimento afirmou ainda que a presidente Dilma Rousseff participou de "organizações terroristas".

O coronel foi convocado como parte das atividades do colegiado. Antes das perguntas, Ustra fez um depoimento inicial em que defendeu sua atuação no período militar. "Estávamos cientes de que estávamos lutando para preservar a democracia. Lutávamos contra o comunismo. Se não fosse a nossa luta, hoje eu não estaria aqui porque eu já teria ido para o 'paredon'", afirmou. "Hoje não existiria democracia nesse País", completou.

Em sua defesa, Ustra afirmou que combatia o "terrorismo". "O objetivo das organizações terroristas era a implantação de uma ditadura do proletariado, do comunismo. Isso está escrito no estatuto de todas as organizações terroristas, inclusive no das quatro que a presidente da República participou", disse em referência à Dilma Rousseff, que fez parte de grupos de resistência à ditadura e foi presa em 1970.

O coronel comandou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), do 2º Exército, em São Paulo, entre 1970 e 1974. O nome dele é um dos mais citados em denúncias de violações de direitos humanos no período. "Quem tem que estar aqui é o Exército, não eu", disse em tom exaltado.

"Eu não vou me entregar. Eu lutei, lutei e lutei. Tudo que eu tenho a declarar está no meu livro", afirmou ao final da sua fala. Ustra obteve decisão liminar na Justiça para ficar em silêncio durante a sessão, mas respondeu parte das questões.

Perguntado sobre um caso de estupro nas dependências do DOI-Codi, Ustra reagiu com irritação. "Nunca, nunca, nunca ninguém foi estuprado dentro daquele órgão. Digo isso em nome de Deus. É verdade o que estou falando."

Publicidade

Ustra também negou a ocorrência de mortes no DOI-Codi durante o seu comando. "Sempre admitimos que houve mortos [durante o regime militar]. No meu comando ninguém foi morto dentro do DOI. Todos foram mortos em combate. Dentro do DOI, nenhum."

Nesta sexta, a comissão ouviu também o ex-agente Marival Chaves Dias do Canto. Ele confirmou que Roberto Artone era agente da repressão

e poderia dar informações sobre desaparecidos político, conforme revelou o

Estado

, nesta sexta. Pela primeira vez, os depoimentos foram abertos ao público.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.