BRASÍLIA - O presidente Michel Temer foi advertido de que vai iniciar a semana com um novo problema, se atender ao pedido do líder do governo no Congresso Nacional, deputado André Moura (PSC-SE), que levou ao Planalto o nome de Wallace Moreira Bastos, subsecretário de Assuntos Administrativos do Ministério dos Transportes, para assumir o cargo de presidente da Funai - Fundação Nacional do Índio. O nome de Wallace foi apresentado ao Planalto por Moura, como indicação do PSC e com apoio da bancada ruralista.
+ Temer decide exonerar presidente da Funai a pedido de bancada ruralista
Wallace Bastos, apesar de estar há pelo menos três anos no Ministério do Transportes, é pregoeiro concursado da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), onde foi presidente da comissão permanente de licitação. Ele é também, desde maio do ano passado, membro do Conselho de Administração da Companhia Docas do Maranhão - Codomar.
No seu currículo, no entanto, não há nenhuma indicação de ter trabalhado na área indígena ou ligação ou conhecimento com o delicado setor. Wallace está indicado para assumir o cargo no lugar do general Franklimberg Ribeiro de Freitas, que entregou, na última quinta-feira, seu pedido de demissão. Seu currículo, publicado no site do Ministério dos Transportes, informa ainda que ele foi sócio proprietário e gestor, entre 2002 e 2008 das empresas Giraffas, Casa do Pão De Queijo, Montana Grill e Café Cancun e, antes, analista de vendas da Ambev.
+ Ex-presidente da Funai diz que foi demitido por não fazer 'malfeitos'
Na semana que vem, quando está previsto que o nome de Wallace será referendado, estará sendo realizada em Brasília, a semana da Aldeia Indígena. Por conta disso, Temer foi avisado de que, naturalmente, a escolha levará a protestos e mobilização das organizações não governamentais ligadas aos indígenas, contra a indicação.
Ciente do problema que se avizinha, o presidente pediu ao ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, que procurasse um nome alternativo, também ligado à bancada do PSC, porém, mais ligado à área, mas a pressão do Congresso está muito forte. A Funai é subordinada ao Ministério da Justiça.
+ Índios isolados correm risco de virar 'catástrofe internacional', alerta ex-presidente da Funai
O deputado André Moura avisou ao Planalto que as bancadas só fecharão votação da pauta econômica com 15 itens, que o governo quer levar adiante a partir da semana que vem, se Wallace Bastos for indicado. A pauta econômica inclui, por exemplo, a privatização da Eletrobrás, projeto prioritário para o Planalto, neste momento, e o cadastro positivo.
A queda de braço ainda não está resolvida e representa apenas uma das tantas pressões e cobranças que Temer vem sofrendo para aprovar pautas no Congresso. Procurado, Wallace Bastos não respondeu à reportagem.