Programas de combate à pobreza devem vir antes de investimentos em infraestrutura, diz Lula

Ex-presidente foi convidado para palestrar no aniversário de 10 anos do programa Tekoporã, que distribui subsídios a 600 mil paraguaios por meio de um cartão, a exemplo do Bolsa Família

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Por Rodrigo Cavalheiro e correspondente
Atualização:
O ex-presidente Lula (direita)com o presidente do Paraguai Horacio Cartes (esquerda) e o diretor de Itaipu no Brasil, Jorge Samek (centro) Foto: EFE

Buenos Aires - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu na manhã desta terça-feira, 8, em Assunção, que programas sociais contra a pobreza devem vir antes de investimentos em infraestrutura. Ele foi convidado para palestrar no aniversário de 10 anos do programa Tekoporã, que distribui subsídios a 600 mil paraguaios por meio de um cartão, a exemplo do Bolsa Família. Diante do presidente paraguaio, Horacio Cartes, pediu que encare a fome como questão central de seu mandato. Lula citou as circunstâncias em que assumiu em 2003.   "É verdade que eu poderia fazer uma ponte, uma estrada, mas entre cuidar de 54 milhões de pessoas que estão passando fome e fazer uma estrada, a estrada pode esperar que essas pessoas comam, fiquem fortes e ajudem a construí-la", afirmou, em português misturado a algumas palavras em espanhol. "Se fizesse a estrada, essas pessoas morreriam de fome antes de vê-la terminada. É muito difícil encontrar alguém no setor de Fazenda ou Tesouro que esteja disposto a dar essa contribuição aos que estão abaixo. Não é uma política de esmola, de compensação, é um direito", acrescentou, em trecho do discurso reproduzido pelo jornal ABC Color. Lula afirmou que os pobres ajudaram a salvar o Brasil. "Antes de eu chegar à presidência, eram tratados como se fossem problemas. E hoje eu digo que cuidar bem dos pobre é a solução para acabar com a miséria na nossa América do Sul."  Aperto fiscal. Lula disse que nações que passaram por apertos orçamentários muito fortes "ficaram mais pobres do que estavam antes do ajuste", segundo o jornal paraguaio. O ex-presidente afirmou ainda que conhece empresários excelentes, mas nenhum que trabalhe sem perspectiva de lucro. "Só quem pode fazer o investimento em que o único retorno é a saúde e a escola de uma criança, e não ter retorno financeiro, é o Estado. Só o Estado pode garantir que as pessoas tenham igualdade de oportunidades e condições", afirmou, segundo o Instituto Lula, que organiza as viagens do ex-presidente.   Lula defendeu suas visitas como palestrante à África e à América Latina. "Tenho tentado convencer os presidentes a colocar um dinheirinho para os pobres", afirmou. No dia 18 de agosto, diante de acusações de que o ex-presidente havia falado em eventos de organizações envolvidas na Operação Lava Jato, o Instituto Lula divulgou uma lista de empresas que o haviam contratado como palestrante. De 2011 até então, segundo o instituto, o ex-presidente tinha feito 70 palestras contratadas por 41 empresas e instituições. A remuneração, segundo o site, se dá "de acordo com sua projeção internacional e recolhendo os devidos impostos".    O ex-presidente chega nesta terça-feira, 8, a Buenos Aires. Entre quarta-feira, 9, e sexta-feira, 11, ele dará duas palestras a grupos de empresários e organizações civis, receberá dois títulos de Doutor Honoris Causa e participará de atos de campanha do candidato kirchnerista Daniel Scioli, um deles ao lado da presidente Cristina Kirchner. 

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