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No balanço da Rede

Desde que se tornou uma bancada na Câmara dos Deputados, a Rede se esforça para ter posição conjunta nas votações. Na busca por identidade, seus cinco deputados tomaram o governo Dilma Rousseff como farol – mas ao contrário. Segundo o Basômetro, do Estadão Dados, eles só convergiram com o líder governista em 23% das 26 vezes em que tiveram de votar nominalmente como deputados do novo partido. E essa oposição só fez aumentar.

Por José Roberto de Toledo
Atualização:

Nas últimas dez votações, acabaram alcançando um feito: a Rede se tornou o partido mais oposicionista da Câmara. Com uma média de apenas 10% de governismo, o partido de Marina Silva se igualou ao PSOL e ao PPS, e superou DEM e PSDB (11% de governismo).

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Tamanha unidade como oposição não é pouca coisa se levarmos em conta a origem governista da maioria dos deputados da Rede. Alessandro Molon saiu do PT, João Derly e Aliel Machado são oriundos do PC do B, e Miro Teixeira foi ministro do governo Lula. Apenas Eliziane Gama veio de um partido de oposição, o PPS. Mesmo assim, tem registrado mais votos oposicionistas desde que migrou para a Rede do que quando estava na antiga legenda.

Dos cinco, Miro é o mais oposicionista. Se considerarmos todas as votações nas quais a bancada da Rede já tinha a atual formação, ele votou contra a orientação do líder do governo na Câmara 21 vezes. Mas os outros não ficam muito atrás. Molon, por exemplo, já deu 18 votos contrários ao governo desde que saiu do PT. Teve uma mudança radical de comportamento: nas primeiras 100 votações nominais da atual legislatura, o ex-petista votou a favor do governo em 82 ocasiões. Era mais de 90% governista.

Assim, não foi uma boa notícia para o governo quando o Supremo Tribunal Federal ampliou, há poucos dias, o prazo para que mais deputados e senadores deixassem as legendas pelas quais foram eleitos para se filiar à Rede – sem risco de perderem seus mandatos. O partido de Marina está trabalhando para ser tão ou mais oposicionista a Dilma quanto é o PSDB de Aécio Neves.

Para sorte de Dilma, entretanto, nem a própria Rede projeta um crescimento explosivo de sua bancada. Dos cinco deputados atuais, deve chegar a oito se tudo correr como o planejado. É o suficiente para marcar (o)posição e atrapalhar um pouco o governo no Congresso. Mas não basta para ser decisivo em nenhuma votação importante. Tampouco dá direito a tempo de propaganda eleitoral suficiente para tornar a Rede uma noiva cobiçada.

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Na eleição de prefeito de 2016, o novo partido terá em São Paulo, por exemplo, uma exposição quase nanica no horário de TV. Se lançar candidato, ele terá direito a duas a três inserções por dia. Já o candidato petista, por comparação, aparecerá cinco a seis vezes mais. Portanto, se Fernando Haddad chegou a cogitar deixar o PT para se filiar à Rede, deve ter desistido assim que começou a fazer contas. A regra vale para outras capitais.

A base de prefeitos e vereadores que a Rede conseguir eleger no próximo ano será determinante no desempenho do partido nas eleições para o Congresso, em 2018. Há uma relação entre o crescimento de uma legenda partidária no pleito municipal e o avanço que ela registra nas eleições nacionais dois anos depois. 

Prefeitos e vereadores são os melhores cabos eleitorais de deputados federais e estaduais. Sem essa base municipal, nenhum partido consegue eleger uma bancada significativa no Congresso. É um fato que se tornou especialmente relevante depois da crise política que tem se arrastado ao longo de todo o ano de 2015.

Dilma não consegue governar porque não tem votos suficientes na Câmara para aprovar o que precisa. Obtê-los será tanto mais difícil – e caro – quanto menor for a bancada do partido do presidente que vier a lhe suceder. Por isso, o destino de Marina em 2018 depende obrigatoriamente de a Rede crescer em 2016.