Negociações já têm como foco o pós-Dilma

Articulação de ala do PMDB ligada a Temer com partidos do 'centrão' sobre montagem de equipe faz Planalto agilizar estratégia contrária

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Por Vera Rosa e Daniel de Carvalho
Atualização:

BRASÍLIA -O Palácio do Planalto foi informado de que a ala do PMDB ligada ao vice Michel Temer não só aposta no impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao lado da oposição, como já traça cenários sobre eventual pós-Dilma com integrantes de outros partidos aliados. As conversas desse grupo ocorrem nos bastidores com setores do PSD, PP, PR e PTB – o chamado “centrão” – e passam até mesmo por tratativas sobre cargos em ministérios, estatais e bancos públicos.

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O movimento preocupa o Planalto, às vésperas da reunião do Diretório Nacional do PMDB, que na terça-feira vai decidir se o partido romperá com Dilma e entregará os cargos. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a nomeação suspensa como ministro da Casa Civil, avalia que, sem o PMDB, Dilma não resistirá e tenta segurar a debandada.

Articuladores políticos do governo montaram planilhas por Estados, para atender parlamentares insatisfeitos e punir traidores. “Só é governo quem vota com o governo”, resumiu um assessor da presidente.

Com o agravamento da crise política, porém, uma parte do PMDB e a oposição liderada pelo PSDB têm conseguido atrair aliados de Dilma em torno de negociações que vão da promessa de cargos, caso a presidente seja afastada, a acertos para disputas municipais.

Escolhido para presidir a Comissão Especial do impeachment, instalada na Câmara, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), por exemplo, é um nome citado como candidato ao comando da Casa, em acordo com a ala do PMDB ligada a Eduardo Cunha (RJ). O mandato de Cunha à frente da Câmara termina no fim do ano, mas pode ser encurtado, caso as denúncias contra ele, envolvendo desvio de recursos na Petrobrás, sejam acatadas.

Rogério Rosso (PSD-DF) Foto: Dida Sampaio/Estadão

Na semana passada, Rosso telefonou para o deputado Índio da Costa (PSD) e pediu que ele não lançasse agora a candidatura à prefeitura do Rio para possível composição com o PMDB, mais à frente. No Congresso, a leitura desse diálogo foi a de que o presidente da Comissão está “fechado” com o PMDB.

Rosso negou tratar de governo pós-Dilma e atribuiu o pedido feito a Índio a “questões locais”. Embora publicamente a maioria dos aliados de Temer minimize as discussões relativas a uma nova equipe, alguns admitem “conversas informais” sobre o assunto.

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O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) disse já ter aconselhado Temer a escolher os titulares da Fazenda, Casa Civil, Banco Central, Justiça e Defesa. “Como acredito na possibilidade de a presidente Dilma ter a grandeza de renunciar, creio que, por precaução, ele já deve escolher alguns ministros que independem de qualquer negociação política. Seria um governo de salvação nacional, com o maior número de partidos”, argumentou Marun.

Dilma já declarou que não renunciará “sob nenhuma hipótese” e disse ter “energia de sobra” para enfrentar o que define como “golpe”.

Em entrevista ao Estado, publicada na segunda-feira, o senador José Serra (PSDB-SP) afirmou que Temer deve assumir compromissos com a oposição, caso Dilma sofra impeachment, e um deles seria o de não concorrer à reeleição, em 2018. O vice alegou, porém, que não tem porta-voz nem discute cenários políticos para futuro governo. “A hipótese de o PMDB tratar sobre isso agora é zero”, insistiu um integrante da cúpula do PMDB, amigo de Temer.

Prévia. 

O mapeamento do governo indica que, dos 65 deputados da Comissão do impeachment, 32 são hoje favoráveis à deposição de Dilma, 28 contra e cinco estão indecisos. Na tentativa de reverter esse quadro, a própria presidente pediu apoio, nesta semana, aos sete ministros do PMDB e a deputados e dirigentes do PR, PP e PDT.