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Mulheres levarão 47 anos para obter igualdade no comando de Estados

Ranking Nacional de Presença Feminina no Poder Executivo 2018 aponta que igualdade de gênero em prefeituras demorará 20 anos

Por Idiana Tomazelli
Atualização:
A governadora de Roraima, Suely Campos, é a única mulher a comandar um Estado no País. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

BRASÍLIA - A ausência de uma estrutura partidária que dê espaço para a candidatura de mulheres tem dificultado a participação feminina no comando das diferentes esferas do Poder Executivo no Brasil. No ritmo atual, a igualdade de gênero na titularidade das prefeituras só chegará em 20 anos e meio, segundo o Ranking Nacional de Presença Feminina no Poder Executivo 2018, produzido pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI). Na esfera estadual, o quadro é ainda mais crítico: a igualdade entre governadores e governadoras só chegará em 2065, ou seja, em mais de 47 anos.

A diretora-executiva do PMI, Marlene Machado, afirma que a própria estrutura dos partidos, com pouca ou nenhuma representatividade feminina em seus comandos, coloca as mulheres em posição desfavorável na disputa política. É comum que, sem espaço de articulação nas costuras internas de cada legenda, elas sequer consigam ingressar na disputa pelos cargos. O objetivo do relatório, segundo Marlene, é dar um alerta sobre a necessidade de criar espaços para a atuação feminina na política brasileira. A diretora-executiva afirma que o recente assassinato da vereadora Marielle Franco também serve de advertência à sociedade.

+ Projeto quer instituir cotas para mulheres em conselhos administrativos "A violência contra a mulher ainda é muito grande. O caso da vereadora foi uma tragédia para o País e serve de alerta para todos nós de que temos de refletir e pensar sobre as mudanças. Temos que entender que a mulher tem que estar em todos os lugares", afirmou. O Brasil ocupa a 161ª posição num ranking de 186 países que tiveram a participação feminina no Poder Executivo avaliada pelo relatório, que será divulgado oficialmente amanhã. O resultado mostra que a inserção das mulheres brasileiras nesses cargos é a pior da América Latina e está abaixo de países como Paraguai, Nigéria, Etiópia e até Síria, que enfrenta uma guerra civil após a deflagração de movimentos pró-democracia. No top 10 do ranking estão nações como Chile, até o início deste mês presidido por Michelle Bachelet, Reino Unido, que tem Theresa May como primeira-ministra, e Alemanha, chefiada por Angela Merkel desde 2005. O Brasil teve até hoje apenas uma presidente mulher: Dilma Rousseff. Nas eleições de 2014, elegeu uma governadora entre as 27 unidades da federação: Suely Campos, em Roraima. Em 2016, foram 639 prefeitas eleitas entre os 5,5 mil municípios, sendo que 68% das cidades sequer tiveram candidatas mulheres ao cargo. Nenhuma capital é administrada por mulher no Brasil.

+ Entre hormônios e política, o que importa mais para ter mulheres na política? "Nós temos a questão cultural, mas um problema também é a questão da estrutura partidária. Quem está no comando dos partidos é o sexo masculino. As mulheres teriam que ter participação também no comando dos partidos. Elas têm que ter vida partidária, temos que chamar essas mulheres para o debate. Tempo de televisão, fundo partidário, tudo isso precisa ser repensado para que a gente atinja a igualdade de gênero", diz a diretora-executiva do PMI. Uma possível solução, segundo ela, seria a criação de cotas para mulheres nas executivas partidárias. "A mulher é maioria na população, entre chefes de família, no comando de empresas. Se somos maioria, por que ainda somos menos de 10% do Executivo? Temos que ter esse debate", afirma. A diretora diz que não vê o cenário se alterando para as eleições de 2018, mas ressaltou que ainda há tempo para tomar medidas nessa direção e, sobretudo, acelerar o processo de abertura de espaço para a participação feminina na política.

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Os autores do relatório analisaram o histórico de crescimento da participação feminina entre candidaturas e recebimentos de votos nos Estados e municípios. Chegaram à conclusão de que o crescimento médio da representatividade das mulheres na disputa para o cargo de governador foi de 5,7% ao ano, considerando o período de 1994 a 2014. Diante desse quadro, a estimativa é que o País levará 47 anos e nove meses para chegar à igualdade de gênero nessa esfera.

"É um tempo muito grande", afirma Marlene. Nos municípios, o avanço da representatividade foi de 6,92% entre 1996 e 2006. Por isso o caminho a ser percorrido até a igualdade de gênero nos municípios tende a ser menor, ao longo de 20 anos e meio. 

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