MST ocupa fazenda da Cutrale em dia da 'luta camponesa'

Em ato que homenageia vítimas de massacre em Eldorado dos Carajás, movimento alega que propriedade foi apropriada pela empresa irregularmente, como mostram estudos técnicos do Incra

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) ocuparam a Fazenda Santo Henrique, da exportadora de suco de laranja Cutrale, em Agudos, interior de São Paulo, na madrugada desta segunda-feira, 17. O movimento alega que as terras pertencem à União e são ocupadas indevidamente pela empresa. É a oitava ocupação da mesma propriedade. Numa das ações, em 2009, militantes do MST depredaram instalações e destruíram 2.000 pés de laranja – as imagens dos tratores arrancando as plantas tiveram grande repercussão.

Integrantes do MSTocupam a Fazenda Santo Henrique, utilizada pela empresa Cutrale, em Borebi (SP), em julho de 2013 Foto: Billy Mao/Futura Press

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Em outra ação, também nesta segunda, famílias do MST invadiram a Fazenda Guassahy, às margens da rodovia Presidente Dutra, em Taubaté, no Vale do Paraíba, outra região do Estado. As ações fazem parte do “Abril vermelho”, jornada nacional de lutas que ocorre no mês de abril para relembrar “o assassinato de 21 sem-terra durante manifestação, em 1996, em Eldorado dos Carajás (PA)”. Na ocasião, policiais militares cumpriam ordem judicial de desocupação de uma rodovia e os sem-terra resistiram.

No caso da área da Cutrale, o movimento alega que a fazenda faz parte do antigo Núcleo Colonial Monções, projeto de colonização de uma área de 40 mil hectares de terras federais que foram ocupadas por empresas. “Por outro lado, três mil famílias continuam acampadas a uma média de sete anos no Estado de São Paulo”, informou em nota. Ainda conforme o MST, a jornada também denuncia o “retrocesso” das medidas do governo Temer, como “a privatização dos assentamentos e a regulamentação da venda de terras a estrangeiros”.

Houve manifestações pelo "Abril vermelho" também em Porto Alegre (RS), com a ocupação dos pátios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Ministério da Fazenda, e em Curitiba, onde os sem-terra montaram acampamento em frente à superintendência do Incra no Paraná. Em Goiânia, (GO), os militantes ocuparam as instalações do Incra estadual.

Irregular. Em relação à Fazenda Santo Henrique, o Incra informou que o imóvel é objeto de ação reivindicatória pela União desde 2006, pois estudos técnicos demonstraram que a propriedade foi ocupada irregularmente ao longo dos anos. Quanto à Fazenda Guassahy, em Taubaté, o Incra informou que não há qualquer processo de desapropriação para reforma agrária e que imóveis rurais invadidos não podem ser vistoriados. Atualmente, segundo o órgão, há 13,5 mil inscritos para a reforma agrária no Estado de São Paulo. No País, o número é de 137,9 mil.

A Cutrale confirmou a invasão da fazenda e informou que tomaria as medidas cabíveis. A reportagem não conseguiu localizar os donos da Fazenda Guassahy. Conforme a Polícia Militar, até o fim da tarde nenhum titular da área tinha ido ao local.