Mônica diz que Mantega acertou caixa 2 para campanha petista

Em depoimento sigiloso ao TSE, empresária afirma que encontro ocorreu em maio de 2014

PUBLICIDADE

Foto do author Beatriz Bulla
Por Rafael Moraes Moura e Beatriz Bulla
Atualização:

BRASÍLIA - Em depoimento sigiloso prestado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a empresária Mônica Moura, mulher do publicitário João Santana, disse que participou de uma reunião no primeiro semestre de 2014 com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, na qual foi acertado que parte do pagamento do marketing político da campanha da ex-presidente Dilma Rousseff à Presidência da República seria feita via caixa 2.

Mônica Moura, esposa e sócia do publicitário João Santana Foto: Rodolfo Buhrer/REUTERS

Mônica disse que já tratava de assuntos da campanha com Mantega e o ex-tesoureiro de Dilma, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência Edinho Silva em encontros na casa do então ministro da Fazenda, em Brasília. Na primeira reunião, falou-se que o valor total cobrado pelo casal - R$ 105 milhões - estava caro demais. "A terceira reunião já foi para fechar tudo, já para definir. Foi quando o ministro Mantega me disse que 'ok, está tudo sim, vai ser assim, vai ser assado, uma parte assim e uma parte assada, que é a parte por dentro e a parte por fora. A parte por dentro trate logo com Edinho, veja o contrato e tudo direitinho', como sempre era, e a parte por fora ele me encaminhou para conversar com a Odebrecht, mais uma vez com o pessoal da Odebrecht", relatou. "Eu já tinha o contato lá dentro, já existia. Eu procurei o sr. Hilberto Silva (que chefiou o Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, conhecido como o 'departamento da propina') para tratar do cronograma de como seria o recebimento dessa parte por fora", detalhou. Dessa forma, de acordo com Mônica, ficou acertado que o valor oficial destinado ao marketing tocado pelo casal seria de R$ 70 milhões - e o restante pago "por fora". Do caixa 2, a Odebrecht teria, efetivamente, pago cerca de R$ 10 milhões em dinheiro. "Eu fazia uma brincadeira dizendo: Eu adoro pagar imposto. Por favor, eu quero tudo por dentro porque, para mim, era muito mais fácil, para mim, era mais seguro, eu não tinha de lidar com trânsito de dinheiro em mãos, eu não tinha de lidar com pagamentos de caixa 2 nem por recebimento", disse. "Óbvio que, para o profissional que trabalha com campanha política, se tudo fosse feito por dentro, maravilha, não tinha nenhum problema. Eu transitava com a minha contabilidade normal, absolutamente tranquilo, mas não, sempre tinha um caixa 2, é uma coisa perigosa. Não é só por ser ilícito, por estar sonegando imposto não, é porque é perigoso o processo todo", afirmou. A empresária e Santana foram ouvidos no dia 24 pelo ministro Herman Benjamin, relator da ação que apura se a chapa da ex-presidente e do presidente Michel Temer cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger. Já Mantega prestou depoimento ao TSE antes, no dia 6.Captação. À Justiça Eleitoral, o ex-ministro da Fazenda disse que não pediu ao empreiteiro Marcelo Odebrecht doações nem ao PT nem à campanha de Dilma ao governo em 2014. Mantega negou que tenha se envolvido na captação de recursos da campanha e sustentou que a participação foi restrita à formulação de propostas econômicas e à preparação de respostas para debates eleitorais da ex-presidente. No depoimento, o ex-ministro chamou Odebrecht de "ficcionista frustrado". "Captação de recursos para a campanha, não, porque a campanha tinha uma coordenação e um tesoureiro. Cabia ao tesoureiro cumprir essa função. Mesmo porque também eu estava exercendo a atividade de ministro da Fazenda, que eu posso dizer que não é uma atividade simples e que me absorve a maior parte do tempo", declarou. "Não pedi doações nem ao PT nem à campanha da Dilma", garantiu. O empreiteiro disse em depoimento à Justiça Eleitoral que o valor acertado para a campanha presidencial da chapa reeleita em 2014 foi de R$ 150 milhões. Deste total, de acordo com o Odebrecht, R$ 50 milhões eram uma contrapartida à votação da Medida Provisória (MP) do Refis, encaminhada ao Congresso em 2009, e que beneficiou a Braskem, empresa controlada pela Odebrecht e que atua na área de química e petroquímica. "Eu tenho a impressão de que o sr. Marcelo é um ficcionista frustrado. Ele deveria ter entrado para essa profissão porque ele cria fatos e a maioria deles, inverossímeis", disse Mantega, ao ser indagado sobre as declarações do empreiteiro. O ex-ministro admitiu que, em algumas ocasiões, Odebrecht lhe adiantou que queria fazer doações de campanha. "Aí, eu disse a ele: Muito bem, sempre é necessário. Os partidos precisam de recursos, porém, eu disse: Eu não sou a pessoa adequada para isso, tem os canais adequados e desde que seja uma doação legal. Mas algumas vezes ele fez essa abordagem", relatou Mantega. "A minha impressão era de que ele queria mostrar serviço, que ele estava querendo ajudar a reeleição da Dilma, embora nós sabemos que ele não tinha nenhuma simpatia pela presidenta", observou o ex-ministro.