Ministro do Trabalho é alvo de protestos em discurso na sede da ONU, na Suíça

Sindicatos foram retirados pela segurança; grupo governamental tenta impedir ofensiva de protestos, mas teme desgaste

Por Jamil Chade e correspondente
Atualização:
Ministro foi interrompido na sede da ONU, em Genebra Foto: Jamil Chade/Estadão

GENEBRA - O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, foi interrompido em seu discurso na ONU, na Suíça, por sindicatos que protestaram contra o governo de Michel Temer nesta quarta-feira, 8. O ministro está em Genebra para participar das reuniões da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na sede das Nações Unidas. Mas quando começou realizar seu discurso na plenária da entidade, foi alvo de protestos. 

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Com mensagens escritas em inglês e francês, os representantes da CUT e de sindicais estrangeiras denunciaram o "golpe" no País e se colocaram de pé diante de centenas de delegados estrangeiros. Na primeira fila e vestidos com camisas vermelhas, os representantes dos sindicatos gritavam palavras de ordem, enquanto mostravam cartazes dizendo " Coup in Brazil " (Golpe no Brasil) e " Esse ministro não é legítimo ".

A presidência da reunião interrompeu o discurso e pediu a intervenção da segurança para retirar os manifestantes. "Peço que a segurança garanta que a ordem seja restaurada", disse. 

Um grupo de sindicalistas deixou o local gritando "golpista", enquanto membros do grupo governamental respondiam. Por alguns instantes, a assembléia da ONU foi tomada por berros. O grupo governamental aplaudiu a decisão da presidência, inclusive com cartazes dizendo "Tchau Querida", usado nos protestos anti-Dilma. 

Ao retomar seu discurso, o ministro fez questão de dizer que a OIT era uma prioridade para o Brasil e responder às acusações do golpe. "No Brasil temos nossa democracia consolidada. Ninguém está acima da lei", disse, enfaticamente aplaudido pelo grupo governamental.

Sindicatos como a Força Sindical não participaram do protesto e criticaram a ação da CUT. "Nossos assuntos precisamos tratar no Brasil, não aqui", disse Carlos Lacerda, secretário para Assuntos Parlamentares da Força Sindical e que levou o cartaz " Tchau Querida " para dentro da ONU. "O golpe são os 11 milhões de desempregados", disse. 

Sindicalistas se mobilizaram em ato contra governo Temer na Suíça Foto: Jamil Chade/Estadão

Já temendo protestos, a diplomacia brasileira em Genebra solicitou à ONU um reforço de segurança. O Estado presenciou quando um grupo de sete homens e mulheres chegaram até o plenário das Nações Unidas e foram ordenados a serem colocados em locais estratégicos da sala.

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Num local para 2 mil pessoas, em grande parte vazia, Nogueira tentou dar garantias de que os direitos trabalhistas não seriam revogados. A delegação brasileira ainda contava com oito deputados, membros do Tribunal Superior do Trabalho e outros sindicatos, que não seguiram os protestos da CUT. 

Imagem. Essa foi a primeira vez que um ministro do governo de Michel Temer foi alvo de protestos no exterior, em uma reunião oficial e durante um discurso. O chanceler José Serra já havia sido alvo de protestos em Buenos Aires, mas fora da embaixada.

Em Genebra, sindicatos coordenados pela CUT já vinham organizando protestos contra a diplomacia brasileira nas reuniões da entidade. Mas nunca na presença do ministro. 

Na segunda-feira, 6, também na plenária das Nações Unidas, o sindicalista grego George Mavrikos, presidente da Federação Mundial de Sindicatos, acusou a delegação brasileira de "fascista". A diplomacia brasileira pediu direito de resposta. Mas, quando foi falar, passou a ser vaiada. "Eles foram calados. É assim que temos de agir", disse depois Valentin Pacho, representante do mesmo sindicato. 

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Na sexta-feira, 3, diplomatas brasileiros já tinha sido hostilizados numa das reuniões da OIT em Genebra por sindicatos latino-americanos. Ontem, uma delegação de trabalhadores da Venezuela acusou Temer de ter promovido "um golpe de estado" numa das reuniões da OIT. 

Preocupados com a repercussão internacional, os diplomatas brasileiros receberam a orientação de não deixar nenhum ataque sem resposta. A embaixadora Regina Dunlop colocou um representante brasileiro em cada sala para garantir que nenhuma brecha fosse dada. Em todas as ocasiões, o Itamaraty pediu a palavra e leu dois parágrafos indicando que a Constituição estava sendo respeitada e que não existia o golpe denunciado. 

Nos corredores, porém, diplomatas e a equipe do Ministério do Trabalho não escondiam o temor de "manchar a imagem" às vésperas das Olimpíadas diante da comunidade internacional. Ao concluir seu discurso nesta quarta-feira, Nogueira convidou a todos para que fossem ao Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos.   

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