BRASÍLIA - A suspeição de que contratos com uma agência de publicidade firmados pelo Ministério da Saúde e pela Caixa Econômica Federal tenham sido usados para desviar recursos públicos por políticos investigados na Operação Lava Jato fez com que os órgãos anunciassem medidas em resposta à 11ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada ontem pela Polícia Federal.
O Ministério da Saúde anunciou que vai suspender os pagamentos à agência de publicidade Borghi Lowe, contratada por meio de licitação em 2010 para criar campanhas para o Programa Mais Médicos, e para ações de combate a doenças como pólio, tuberculose e a gripe H1N1. O órgão divulgou também a criação de uma comissão de sindicância e disse que passará informações dos contratos de publicidade para a Controladoria-Geral da União (CGU), para o Tribunal de Contas da União (TCU) e para o Ministério Público.
Levantamento feito pelo Estado no Portal da Transparência mostra que a pasta efetuou repasses de R$ 113 milhões entre 2011 e março deste ano para a agência. Além disso, a pasta disse que não vai autorizar novas ordens de serviço para a referida a agência.
A Polícia Federal e o Ministério Público suspeitam que contratos firmados pelos órgãos com a agência tenham sido usados para desviar recursos públicos para o ex-deputado federal André Vargas (sem partido), ex-petista, preso ontem nos desdobramentos da Lava Jato.
Até agora, a força-tarefa citou contratos de publicidade envolvendo o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica Federal, em que a fatia desviada era da ordem de 10% para cada contrato. Entre as empresas suspeitas de integrar esse esquema estão companhias de agentes políticos.
A Caixa também informou que abrirá apuração interna para averiguar os fatos revelados pelas investigações da PF. “A Caixa reitera que vai colaborar integralmente com as investigações e informa que encaminhará imediatamente todos os contratos relacionados às empresas citadas à Controladoria-Geral da União, à Polícia Federal e ao Ministério Público”, afirmou, em nota. O banco estatal não informou, até a conclusão desta edição, o valor total do contrato que manteve com a agência de publicidade.
O Ministério da Saúde informou ainda, por meio de nota, que nunca firmou contrato com a empresa Labogen, de Leonardo Meirelles, também investigado na Operação Lava Jato.
Partidos. A prisão de Vargas não deve mobilizar o PT, antiga legenda do ex-parlamentar, de acordo com informações repassadas pela cúpula petista à reportagem. A sigla acredita que deve manter-se em silêncio sob o argumento de que Vargas “não é mais filiado ao partido”.
No ano passado, o PT pressionou o ex-deputado para que ele renunciasse ao mandato em meio às suspeitas de sua ligação com o doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores do esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás. O então deputado resistiu à pressão do partido inicialmente e acabou cassado no fim de 2014.
Suspenso. Já o Solidariedade (SD) suspendeu ontem a filiação de Argôlo da sigla, após a prisão do ex-parlamentar. “Ele estava com processo na comissão de ética e a ideia agora é suspender a filiação e todas as atividades partidárias dele”, disse o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força.
Procurados, o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), e o líder da sigla na Câmara, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), não responderam às tentativas de contato do Estado.