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Mensagens sugerem que JBS tentava comprar decisões em tribunais, diz revista

Edição deste fim de semana da revista Veja traz supostas conversas entre um advogada que trabalhava pra JBS e Francisco Assis, também da empresa; denúncia envolve três ministros do STJ e Gilmar Mendes, ministro do STF

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Por Redação
Atualização:

A Procuradoria-Geral da República (PGR) recebeu centenas de documentos que sugerem que a JBS tentou comprar decisões em tribunais superiores em Brasília. As informações constam de matéria publicada na edição deste final de semana da revista Veja, na qual há entrevista com o empresário Pedro Bettim Jacobi, que denuncia a ex-mulher, a advogada Renata Gerusa Prado de Araújo, que trabalha para a JBS. De acordo com a publicação, são dezenas de conversas (áudios, e-mails e mensagens de WhatsApp) entre Renata e o diretor jurídico da empresa, Francisco de Assis e Silva. Nelas, os dois traçam estratégias para obter decisões favoráveis a empresas do grupo por meio de pagamentos em espécie ou tráfico de influência - uma vez que a mãe de Renata, Maria do Carmo Cardoso, é desembargadora do Tribunal Regional Federal e estava com a relatoria de um processo. Ainda de acordo com a revista, a denúncia envolve pelo menos três ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ): Napoleão Maia, Mauro Campbell e João Otávio Noronha. Em uma entrevista à revista, dentro da própria matéria, Jacobi afirma que, após a delação premiada da JBS, Renata foi acionada para 'aparar arestas' com o Judiciário. Segundo ele, Dalide Barbosa Alves Corrêa, ex-braço direito do ministro do STF Gilmar Mendes, fez reunião com a mãe de Renata se dizendo preocupada porque Francisco, da JBS, "tinha registro de uma conversa com ela que poderia ter algo muito comprometedor tanto para ela quanto para Mendes". 

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Por meio de nota, a assessoria da JBS disse que nenhum dos colaboradores "mentiu" em qualquer depoimento prestado à PGR e ao MPF. "Os colaboradores apresentaram grande número de informações e provas à PGR e em atendimento aos demais ofícios do MPF, que estão sendo tratados dentro dos trâmites legais. Não é possível fornecer detalhes porque a documentação e depoimentos estão sob sigilo. J&F Investimentos", afirmou o texto.

Investigação. O ministro Gilmar Mendes solicitou, nesta sexta-feira, investigação sobre as declarações da reportagem da revista. "Tendo em vista as graves ilações publicadas na revista Veja (...), na matéria intitulada "O que a JBS não contou", solicito imeadiata instauração de investigação a respeito das declarações constantes na referida matéria, para que assim fiquem desde logo esclarecidos os fatos e as circunstâncias em que prestadas", afirmou no ofício.

Gilmar disse ainda que se coloca à disposição para demais esclarecimentos.

O ministro do STJ Napoleão Maia admitiu que encontrou com a advogada Renata em seu gabinete, segundo ele, para tratar de processos, nos quais estava regularmente constituída. Ele decidiu favoravelmente à JBS nos processos, de acordo com a nota, porque a empresa recorrente firmou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MP e pagou o valor integral em juízo.

“Repudio com veemência as declarações de ambos advogados e afirmo que a minha posição judicante segue a minha percepção doutrinária, sabidamente garantística, sem qualquer relação com as partes ou seus advogados", afirmou Napoleão.

Mauro Campbell se manifestou também por meio de nota:

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"Tendo em vista a notícia veiculada no sítio eletrônico http://veja.abril.com.br, no dia 07.09.2017, asseverando que a advogada Renata Gerusa Prado de Araújo, em mensagens com o nacional Francisco de Assis e Silva, identificado como Diretor Jurídico da sociedade empresária JBS, tecem comentários envolvendo, dentre outras autoridades, o nome deste signatário, fazendo crer, a quem deles tiver acesso, que a mesma dispõe de acesso irrestrito a este Ministro do Superior Tribunal de Justiça e que esta autoridade judiciária estaria a negociar valores monetários em troca de decisões judiciais em processos a seu encargo, presto, em homenagem à verdade dos fatos, os seguintes esclarecimentos:

No dia 09.11.2015, foi autuada no Superior Tribunal de Justiça a Medida Cautelar n.º 25.180, onde figurava, como Requerente, a sociedade empresária JBS S/A, dois dias depois, no dia 11.11.2015, proferi decisão indeferindo a liminar pleiteada e negando seguimento à própria cautelar. De tal decisão, foi interposto Agravo em Medida Cautelar, tendo sido peticionado pela Agravante a desistência do recurso. Em decisão de 12.02.2016, declarei extinto o procedimento recursal relativo a tal Agravo.

Ressalto que, apenas, no dia 12.11.2015, após o indeferimento da Medida Cautelar, foi recebido em meu gabinete, nos moldes legais e regimentais, com agendamento prévio e de tudo disponível o acesso a quaisquer interessados, o advogado daquela sociedade empresária, ressalto que, pessoa diversa da advogada Renata Gerusa Prado de Araújo.

Como sabemos todos, a calúnia é uma arma poderosa de que se utilizam os enfermos da alma, que a esgrimem de maneira covarde para tisnar a reputação do seu próximo, seja porque a ele não conseguem equiparar-se, seja na busca da concretização dos mais indizíveis desejos de seus egos atormentados.

Ninguém passa pela jornada terrestre sem experimentar o cerco da ignorância e da imperfeição humana.

Nada obstante, a calúnia é também uma névoa que o sol da verdade dilui, não conseguindo ir além da sombra de um átimo de tempo.

Informo, ainda, que, tão logo tomei conhecimento de tais notícias, solicitei ao senhor Procurador-Geral da República a instauração de competente e minuciosa apuração de tais fatos, com a consequente punição de todos os envolvidos."

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João Otávio Noronha também soltou nota:

O ministro João Otávio de Noronha esclarece que, no dia 13/4/2016, negou pedido de efeito suspensivo no REsp n. 1.569.088, de interesse da FRS S/A Agro Avícola Industrial, empresa controlada pela JBS.

Em 23/5/2016, concedeu audiência em seu gabinete, como regra a todos que pleiteiam, ao advogado da recorrente, legalmente constituído, que solicitou agenda para falar sobre o referido processo. O processo foi julgado contrariamente ao interesse da FRS S/A Agro Avícola Industrial.

O ministro nega, veementemente, a ocorrência de qualquer diálogo obscuro ou de negociação em relação a esse ou a qualquer outro processo e repudia as ilações feitas pela revista Veja. Por isso, pedirá que o caso seja investigado pelas autoridades competentes.

O ministro João Otávio de Noronha reafirma seu compromisso com a ética e a moral na magistratura, função que exerce há 15 anos, sempre guiado pelos princípios constitucionais e republicanos.

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