Meirelles se fortalece para comandar Fazenda

Ex-presidente do BC conta com respaldo do mercado para cargo em eventual governo Temer após atuação no controle da inflação; Serra nega ter recebido convite formal

Por Alexa Salomão
Atualização:

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) fechou seu foco de análise de nomes cotados para o Ministério da Fazenda, caso venha a assumir a Presidência. O peemedebista está entre o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que ocupou o cargo nos oito anos de governo Luiz Inácio Lula da Silva, e o senador José Serra (PSDB-SP), que foi ministro do Planejamento e da Saúde na gestão Fernando Henrique Cardoso.

A favor do primeiro – mais bem posicionado neste momento para ocupar esse posto, conforme integrantes do grupo próximo de Temer – conta o potencial que ele tem de transmitir confiança ao mercado. Na outra ponta, Serra enfrenta entraves dentro de seu partido, que avalia até punir quem aceitar cargos num eventual governo Temer.

Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central Foto: André Dusek|Estadão

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Na segunda-feira, 25, em entrevista no Senado, o tucano negou ter sido sondado ou convidado para assumir a Fazenda de um eventual governo Temer, informação antecipada ontem à tarde pela jornalista Sonia Racy, na versão online da coluna Direto da Fonte. “Tenho conversado com o vice-presidente sempre, mas não tratamos desse assunto. Não tenho na cabeça história de ministério”, disse Serra.

Segundo apurou o Estado, Temer gostaria de ter o apoio institucional do PSDB para que Serra assumisse a Fazenda. Com isso, teria certeza do engajamento total dos tucanos em sua gestão. Caso isso não aconteça, Serra poderia assumir uma pasta na cota pessoal de Temer, como uma nova pasta da Infraestrutura, Educação ou Saúde.

Encontros. O vice se encontrou com Meirelles no sábado, no Palácio do Jaburu. Na noite de domingo, se reuniu com Serra no mesmo local. Temer não fez convites formais aos interlocutores, o que só deve ocorrer após a análise do impeachment pelo Senado. Na conversa com Serra, os dois falaram de economia, da dificuldade financeira dos Estados e de meta fiscal.

Meirelles e Serra têm visões diferentes da economia – no ano passado, o tucano chegou a classificar o ex-presidente do BC como o “pior” da história. No entanto, Meirelles goza de respeito entre analistas de mercado, dada a longa carreira no setor bancário e até por certo “traquejo político”. O ex-presidente do BC foi eleito deputado em 2002 pelo PSDB goiano, mas abdicou do cargo e da filiação tucana para assumir o BC com Lula, além de ter passagens por PMDB e PSD.

Nesse quesito, Serra leva vantagem. Além de ministro, foi deputado e senador e tem experiência como chefe de Executivo na Prefeitura paulistana e no governo de São Paulo, o que pode ser fundamental para negociar reformas fundamentais para reequilibrar a economia do País. Ao mesmo tempo, o perfil centralizador e mais “intervencionista” desperta certa desconfiança entre os analistas.

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Economistas apontam como trunfos a favor de Meirelles um “reforço na confiança dos investidores internacionais”, um dos pontos que mais fragilizaram a presidente Dilma Rousseff. Enquanto a atual gestão descumpriu a meta da inflação no ano passado e deve repetir o feito em 2016, Meirelles só não cumpriu a meta em 2003, ainda sob efeito da especulação com a inédita vitória eleitoral de Lula.

Entretanto, uma lacuna considerada relevante para um futuro ministro da Fazenda no currículo de Meirelles, como lembra um economista sob anonimato, é a falta de experiência na gestão da política fiscal – provavelmente o maior desafio macroeconômico de uma eventual gestão Temer. Para compensar essa deficiência, o ex-presidente do BC precisaria contar com uma equipe competente no assunto e delegar decisões. Seria uma solução à Antonio Palocci, um político que assumiu a Fazenda cercado de nomes de excelência na economia.

Em relação a Serra, o mercado tem visto com bons olhos a atuação do tucano no Senado. Costumam ser citados projetos como o que limita o teto da dívida pública e o que revê o marco regulatório do petróleo. / COLABOROU LUÍSA MARTINS