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MBL rompe com gestão Doria, e Holiday diz que vai 'infernizar' tucano na Câmara

Regulação do aplicativo de transportes Uber foi estopim para rompimento

Foto do author Gilberto Amendola
Por Juliana Diógenes e Gilberto Amendola
Atualização:

Menos de um ano após manifestar apoio ao nome do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), à presidência da República, o Movimento Brasil Livre (MBL) rompeu nesta segunda-feira, 22, com o tucano, e declarou guerra aos projetos do Executivo na Câmara Municipal. O estopim para a separação foi a regulamentação das novas normas para motoristas de aplicativos de transporte como Uber. O anúncio de ruptura foi feito pelo líder do MBL e vereador Fernando Holiday (DEM) no Twitter. Ele afirmou que "rompimentos acontecem baseados em ideais e não em cargos ou interesses escusos". Questionado sobre se o posicionamento de Holiday reflete a insatisfação do MBL como um todo, o coordenador do grupo, Kim Kataguiri, confirmou que a declaração de Holiday é acompanhada pelo movimento. "É uma coisa mais de longo prazo. A gente passa a não defender a gestão João Doria", disse ao Estado.

MBL rompe com Doria por causa de posição do prefeito em relação a regulação de aplicativos de transporte, como o Uber Foto: Tiago Queiroz/Estadão

As regras para aplicativos, em vigor desde 10 de janeiro, determinam restrição de placa da cidade de São Paulo, de tempo máximo de fabricação dos veículos e adesivo colado no carro para identificar a empresa. Para Holiday, as novas normas excluem motoristas e vão causar desemprego, podendo deixar 50 mil famílias sem sustento. "Tomei um posicionamento inicialmente pessoal de posição contrária à resolução. Mas a partir do momento em que a gestão Doria não abriu espaço para flexibilizar em absolutamente nada, conversei com o movimento e em conjunto decidimos adotar um discurso mais duro", disse Holiday. "Seremos muito críticos quando o governo falhar." Para Kataguiri, a regulamentação dos aplicativos foi "o cúmulo". "A questão dos aplicativos foi uma das principais bandeiras da campanha do Doria, e também do MBL. Agora, com essa decisão, ele acaba com 50 mil empregos, acaba com o poder de escolha do usuário e vai deixar o serviço mais caro", disse. Mas o "distanciamento" da gestão Doria - como define Holiday - não é de agora, segundo os líderes do MBL, e começou em abril do ano passado, quando houve atrito entre MBL e o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, sobre o Escola Sem Partido. O embate começou após Holiday fazer "vistorias" em escolas para verificar se os professores não estariam fazendo "doutrinação ideológica". A iniciativa foi criticada pelo secretário no Facebook, o que gerou uma campanha agressiva do MBL contra Schneider. Na ocasião, Doria não quis fazer críticas a Schneider ou ao MBL e optou pela neutralidade, afirmando que dava razão a ambos, mas ambos exacerbaram. Ao mesmo tempo em que elogia o Movimento Brasil Livre (MBL), que se aproxima do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), Doria rejeita o rótulo de "direita". "Sou um liberal. A posição mais ao centro é a mais equilibrada", afirmou em outubro no ano passado. À época, a declaração do prefeito tucano incomodou o MBL. Segundo Holiday, foi uma "declaração desastrosa" e "contraditória com o discurso de campanha". "É incompatível com o que acreditamos", disse o vereador. Em novembro, um terceiro atrito abalou a relação entre MBL e Doria, quando o prefeito tucano sancionou imposto para a Netflix e outros serviços de streaming. Com a mudança, os serviços de transmissão de conteúdo passaram a ter de pagar desde dezembro uma alíquota de 2,9% na cidade. O argumento para a iniciação da cobrança é a adequação, na cidade, de legislação federal sobre o tema, que apontou pela cobrança de Imposto Sobre Serviço (ISS) para essas empresas -- imposto cuja arrecadação é direito dos municípios, assim como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Apesar de ter confirmado o rompimento, Holiday disse que continuará apoiando, na Câmara, projetos do Executivo alinhados às bandeiras do MBL, como a reforma da previdência e o pacote de concessões. "Há um rompimento com a gestão, mas isso não significa que não apoiaremos outras iniciativas vindas de lá. A Prefeitura deve mandar em breve projetos de reforma da previdência e o movimento é abertamente favorável, em âmbito nacional, ao tema, e não teria por que não ser favorável em São Paulo. O projeto de concessões e privatizações também vamos apoiar", disse. Segundo o vereador, a estratégia agora será de obstruir projetos do Executivo. "Antes eu criticava na plenária, votava contra alguns projetos. Mas o processo de obstrução era só a oposição formal. A partir de agora, passarei a obstruir e infernizar a vida do prefeito e da sua equipe", afirmou.MBL e Doria. Conforme informou o Estado, foi em 2017 que o MBL se consolidou como principal movimento político virtual brasileiro, ultrapassando Vem Pra Rua e Movimento Contra Corrupção. Os três se projetaram durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). No universo de publicações com a palavra "Doria" no Facebook ao longo de 2017, o MBL foi, de longe, o maior responsável por comentários, likes e compartilhamentos: 8 milhões de interações - quase o dobro das provocadas pela página oficial do próprio João Doria. O movimento ajudou o pré-candidato a presidente pelo PSDB 80 vezes mais do que projetou o concorrente direto do prefeito paulistano. O MBL provocou apenas 100 mil interações com publicações que tinham a palavra "Alckmin" no seu conteúdo.