Marketing político faz 'turno do mea-culpa'

Responsáveis por campanhas eleitorais de São Paulo falam de erros e acertos em universidade

PUBLICIDADE

Foto do author Pedro  Venceslau
Por Pedro Venceslau
Atualização:

Quarenta dias depois da vitória de João Doria (PSDB) no primeiro turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo, os responsáveis pela imagem dos principais candidatos se reuniram na quarta-feira passada para um debate inusitado em universidade da capital.

PUBLICIDADE

Em clima de descontração e bom humor, os ex-rivais Lula Guimarães (Doria), Angela Chaves (Fernando Haddad), Otávio Cabral (Marta Suplicy) e Duda Lima (Celso Russomanno) praticaram uma sessão pública de “sincericídio” no campus da Universidade de São Paulo (USP), em Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital.

Eles são representantes da primeira geração classe econômica do atual marketing político afetado pela nova regra eleitoral, que impede a doação empresarial. Até então, marqueteiros consagrados eram contratados a preços de classe executiva.

Diante de uma plateia de estudantes do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, o responsável pela comunicação de Russomanno (PRB), que liderou as pesquisas durante boa parte da campanha, mas acabou em terceiro lugar, surpreendeu ao apontar um dos principais motivos da derrota.

Lula Guimarães, Duda Lima, o mediador Josmar Andrade, Angela Chaves e Otávio Cabral em debate na USP Foto: Daniel Teixeira|Estadão

“O Bar do Alemão f. a gente”, disse Duda Lima. Ele se referia aos depoimentos de ex-funcionários de um bar do deputado em Brasília que não teriam recebido direitos trabalhistas.

Revelado pelo Estado, o caso foi usado amplamente no horário eleitoral na TV pela campanha de Marta (PMDB), que chegou a gastar dois terços das inserções para desconstruir o adversário. “O safado do (Otávio) Cabral esculhambou a gente com a história do Bar do Alemão. Mas o Lula (Guimarães, de Doria) estava preparado para usar isso também”, brincou o ex-marqueteiro do PRB.

O responsável pela campanha da senadora peemedebista levou na esportiva e explicou a estratégia. “Decidimos bater no Russomanno com o caso do Bar do Alemão porque o voto dele iria para a Marta. No final das contas, acabou indo tudo para o Doria”, refletiu Cabral.

Publicidade

Angela, da campanha do prefeito, entrou na conversa e contou que o episódio também podia ter sido usado como munição por Haddad. “Eu tinha a informação do Bar do Alemão desde o primeiro dia. Eu almoçava lá. Tinha um ótimo bife à parmegiana. Mas não usei isso. Seria um erro por causa do alto grau de rejeição do Haddad”, revelou.

Em um momento de autocrítica, Cabral classificou de “erro político” o vereador Andrea Matarazzo (PSD) desistir de ser candidato à Prefeitura para ser o vice na chapa de Marta. “Doria virou o único disputando os votos azuis enquanto nós três (contratados por Marta, Haddad e Russomanno) ficamos disputando os votos vermelhos da periferia”.

Guimarães, da equipe de Doria, concordou com a análise e foi além. “Doria foi poupado dos ataques porque houve uma sub-avaliação do potencial dele”.

Sobre Marta, Guimarães afirmou que ela saiu do PT, mas o PT não saiu dela. “Marta tinha uma rejeição dupla. Para o antipetista, ela será sempre petista. Para o petista, ela ganhou o carimbo de golpista”, concordou Cabral.

PUBLICIDADE

Derrota petista. Questionada sobre qual teria sido o erro capital da campanha petista, Angela isentou o antipetismo. “A rejeição ao PT não era determinante. Haddad não perdeu por conta do PT, mas pela velocidade da cidade de São Paulo. Não se pode promover uma mudança tão violenta de comportamento sem apoio da comunicação”.

Ela disse, ainda, que a redução da velocidade das marginais foi fator que demorou para ser explorado. “Vimos os três batendo nisso e bingo. As pessoas tinham ódio de andar a 50km/h.”

Guimarães rebateu os argumentos. “Haddad não teve autocrítica, como teve o ACM Neto (candidato do DEM à reeleição em Salvador). Ele tinha 75% de aprovação em Salvador, mas fez campanha mostrando problemas da cidade que não foram solucionados”, comparou.

Publicidade

A plateia caiu na risada quando o marqueteiro de Doria ironizou o bordão criado por ele para Doria. “Não sou marqueteiro, sou gestor.”